V ez por outra, estou cutucando a memória. É gostoso e terapêutico trazer à nossa presença pessoas que nos deixaram forte impressão, belos e...

Eles eram príncipes


Vez por outra, estou cutucando a memória. É gostoso e terapêutico trazer à nossa presença pessoas que nos deixaram forte impressão, belos exemplos, exemplos de ética, de bondade, de dignidade. Ah, como é salutar recordá-las. É a tal coisa, o homem morre, mas o seu exemplo de compostura e elegância continua.
Estou me lembrando de muita gente boa que transitou pelo meu caminho. E como aprendi com eles! Estou me lembrando agora do primeiro que chega à memória para minha alegria. É como se estivesse vendo-o. Sempre eufórico, sempre de abraços abertos, sempre sorrindo, mais do que isto: Sempre dando boas gargalhadas. Era médico, e ocupou cargos importantes. Impossível não gostar dele, de não ser atraído pela sua constante euforia de quem está em paz com sua consciência. Era médico. Mais do que médico, ere homem de letras. Doido pela nossa Academia. Nunca uma pessoa se identificou tanto com uma instituição. E foi ele quem me convidou para a Casa de Coriolano de Medeiros. “Quero você lá”. E terminei entrando naquele templo de letras, sem eleição e concorrência. Mas quem era ele, cronista? Era Oscar de Castro. Impossível não gostar dele, repito. O primeiro de minha lista. Um homem de bem. Nunca o vi zangado. Já estou ouvindo sua gargalhada a me ver, diante deste computador, que não existia no seu tempo.
Oscar de Castro, médico e escritor, que fez da nossa Academia de Letras a sua segunda casa.

Mas deixemos Oscar e vamos a outro príncipe, a outro homem de ética e que me impressionou, profundamente, pela sua maneira de ser. Também pertenceu à nossa Academia de Letras. Escreveu livros admiráveis, cuja temática foi nossa terra. Historiador autêntico. Escrevia com muita leveza. Mas, o que mais importa nessas rememorações é o homem, sua ‘maneira de relacionar com os outros, sua ética.
Estou me lembrando de Celso Mariz. Sabia se vestir bem (sempre usava linho branco). A cabeça branca e uma maneira distinta de se relacionar com as pessoas. Costumava sempre dizer “all right?” quando se encontrava com a gente Era um verdadeiro gentleman. Sabia entrar, sabia sair. Incapaz de uma vulgaridade. Falar de alguém? Jamais. Daí o respeito que impunha.
Extraordinário autodidata, Celso Mariz foi outro admirável príncipe, que transitou pela nossa província. Quando repórter deste jornal, fui incumbido pelo diretor, deste jornal, já tarde da noite, a buscar Celso e trazê-lo, porquanto havia dúvida sobre um fato histórico da Paraíba. Recebida a ordem, saí como uma bala. E veio uma duvida, onde estaria o nosso príncipe? Estaria jogando lá no clube Cabo Branco? Dito e certo. E quando soube da nossa incumbência, levantou-se da cadeira e veio conosco para o jornal. Mas antes indagou: “Tu tens verba?“ Ele se referia a um carro para levá-lo. Já era tarde. Carro que era chamado de “aluguer”, pois ainda não havia o táxi.
Não me esqueço daquela tarde, em que ele fora dar um passeio para contemplar o crepúsculo do rio Sanhauá, Um dos espetáculos mais belos da nossa cidade. Celso, depois da visita, apenas disse: “Na nossa idade, é bom, vez outra, lançar um olhar de despedida para as coisas”...

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