A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Vinícius de Moraes Aconteceu dia 17 deste mês de setemb...

A Turma de 69

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A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.
Vinícius de Moraes
Aconteceu dia 17 deste mês de setembro. Não pude ir. Estava prontinho para pegar o rumo, mas compromissos não me permitiram dar uma chegada até a distante São José dos Campos e matar 53 anos de saudade.

Vi as fotos do encontro. Irreconhecíveis. Do mesmo jeito, ou ainda conservavam algo como nos tempos que os conheci, só o Hélison, o Flávio (para nós, o Miúdo), a Denise, o José Carlos Riera e a Ana Maria Fortes, está com a mesma carinha como aquela quando a vi pela última vez, só os cabelos é que branquearam. Os demais, só mesmo olhando o crachá. Meio século depois não era de se esperar que conservássemos nossas fisionomias de mancebos e moçoilas. O tempo é padrasto neste quesito.

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Reencontro dos formandos do Científico de 1969 do Colégio João Cursino ▪ São José dos Campos-SP
Imagem: facebook Hélison Dias
Maída (Maria Aída)— que eu achava a mais bonita do colégio —, Márcia Manacorda e Hideo fizeram aquela viagem fora do combinado. Foi-me triste saber disso.

Quem organizou o encontro, me parece, foram o Hélison, Ana Maria e o Riera e ao que me consta o evento se repetirá; será anual. Não perco o próximo nem que vá a pé, atravessando os 2.765 quilômetros que me separam dessa gente da melhor qualidade.

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1960s ▪ Vista aérea de São José dos Campos ▪ Fonte: IBGE
Mas estarão meus leitores e leitoras me perguntando. Quem são? Ah, é uma longa história. Naquele ano de 1967, essa turma entrou para o 1º Científico (turma de Engenharia ou exatas). Havia ainda, a outra turma do Científico (de Medicina ou biológicas), o Clássico para a moçada de humanas e ainda o Normal para nossas mocinhas que queriam ser professoras. Tudo isso equivalia ao que hoje chamamos de Ensino Médio. Foram três anos de convivência, isso depois que trocamos a calça caqui do ginásio pela azul daquela nova fase. As meninas mudaram o modelo de saia, mas não a cor. Seria uma nova e decisiva etapa em nossas vidas.

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A Turma no dia da formatura, em 1969 ▪ Imagem: facebook Hélison Dias
Imaginem o que ocorria em nosso entorno. Os anos de 67, 68 e 69 foram marcantes na história da humanidade. E da nossa, então?! Ao recordar desse tempo, ao me lembrar dessa gente, parceiros de jornada com os quais percorri dois terços dessa caminhada, viajei às primeiras linhas de um romance de Charles Dickens – Um conto de duas cidades – e lá encontrei o seguinte texto:

“Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero...”

Foi assim também o nosso tempo. Vivemos essa época e sobrevivemos. Cada um ali foi cumprir sua parte, dar sua contribuição como cidadão e cidadã. Nenhum ficou pelo meio do caminho ou foi buscar veredas escusas pela vida. Não há como não registrar aqui um preito de gratidão à nossa escola, o Instituto de Educação João Cursino, uma instituição de excelência. Que escola! Que professores! Fomos ali, educados pelo exemplo de uma plêiade de mestres da melhor qualidade.

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1960s ▪ Colégio Estadual e Escola Normal Coronel João Cursino, na Praça Afonso Pena ▪ São José dos Campos ▪ Fonte: IBGE
Ainda me lembro, no 1º Científico não alcancei pontuação para me livrar do exame final em Química. Fui perguntar ao professor Ângelo Simionato o que deveria estudar para a prova ao que ele respondeu:

⏤ Meu filho, estude o “Problemas de Química” – Volume 1 do Waldemar Safiotti de ponta a ponta.

Fui de cabo a rabo naquele tomo, resolvi problemas até não poder mais e tirei o oito e meio que precisava. Era assim que as coisas funcionavam. Não nos viam como coitadinhos, eram exigentes e justos e devemos a eles o alicerce que sustenta nossa formação. Dessa nossa geração há engenheiros em várias modalidades, dentre eles alguns que ocuparam postos de chefia em indústrias renomadas. Há arquitetos, cientistas, professores universitários, profissionais nas mais diversas áreas. Todos que tiveram o saber como ferramenta de trabalho. Aprendemos esses valores no João Cursino.

2019A Turma no aniversário de cinquenta anos da formatura ▪ Imagem: facebook Hélison Dias
Ninguém dessa gente ⏤ geração 69 ⏤ esteve a passeio por aqui. Nenhum deles, nem o amigo leitor e a querida leitora seriam capazes de avaliar o orgulho que tenho de ter conhecido essa tropa. Não fomos uma geração perdida. Cada um cumpriu sua parte. Combatemos o bom combate. Temos deixado esse legado para as gerações que estão vindo de nós.

Por não ter ido ao encontro fiquei devendo meu abraço para as meninas Lúcia, Sônia (a Guimarães e a Andrade), Eliana, Denise, Ana Maria, Elisabeth e aos mancebos Riera, Hélison, Osmar, Tiba, Rodstein, Benício, Flávio (Miúdo), Flávio Pillon, Edis, Tomonori, Osmar, Antônio Sérgio e se me esqueci de alguém, fica a promessa de que o olvidado amplexo de agora será dado pessoalmente no próximo encontro. Enfim, passados 53 anos daquele distante 69, só me resta dizer: "Valeu a pena!"

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