Quanto pode um professor? Não sei. Só sei que pode muito, incluindo a sua capacidade de inspirar gerações, de transbordar a esfera do ...

Ágora paraibana

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Quanto pode um professor? Não sei. Só sei que pode muito, incluindo a sua capacidade de inspirar gerações, de transbordar a esfera do tempo e atingir o significado. E um professor-formador (todos não são?) consegue multiplicar isso numa progressão geométrica. Isso ficou mais uma vez visível na 2ª turma do Curso de formação de professores da Rede pública estadual – prioridade da leitura em sala de aula – sob a regência dos docentes Milton Marques Júnior e Ângela Bezerra de Castro, ambos membros da Academia Paraibana de Letras – local onde foi ministrado – e aposentados da UFPB.

@milton.marquesjunior
Milton ficou responsável por nos apresentar uma nova leitura sobre Augusto dos Anjos. Estudioso do poeta, o professor tem enveredado há alguns anos numa perspectiva de análise que não se limita a reduzir o autor de “Eu” a um vate cientificista. A cada encontro, firmava-se uma abordagem ampla em que religião, ciência evolucionista, biologia, física, química, filosofia etc evidenciavam (ainda mais) o quão grandioso é Augusto. Dessa forma, podendo-se afirmar que se trata do maior poeta da história do Brasil, quiçá um dos maiores do mundo.

Ângela nos encantou com suas aulas em torno da mesa da biblioteca, como se estivéssemos numa ágora, na qual suas explanações eram recheadas por sua alegria de ensinar, por seu vigor, pelo brilho em seus olhos de azul-turquesa, como diria o jornalista Kubitschek Pinheiro. Nessas ocasiões, conversamos sobre Guimarães Rosa, Autran Dourado, além de autores paraibanos, a exemplo de Gonzaga Rodrigues, Luiz Augusto Crispim, José Lins do Rêgo, José Américo de Almeida, Ariano Suassuna, Marília Arnaud e Natanael Alves, que foram pauta para que discutíssemos alguns elementos da narrativa, tais quais: personagem, tempo, espaço, linguagem, além das considerações sobre os gêneros literários crônica, conto, novela e romance.

O autor, Leo Barbosa e Ângela Bezerra de Castro
@EscritorLeoBarbosa
Que oportunidade grandiosa de trocarmos informações, referências e experiências entre nossos colegas, construirmos conhecimento, ganharmos livros com os quais ambos os professores nos presentearam. Foi um mês em que cada sábado era aguardado ansiosamente por todos nós. Foram manhãs e tardes inteiras que passavam rapidamente, porque estavam preenchidas pelo “O sabor do diálogo”. Não bastasse nossa fome por saber, os encontros ficavam ainda mais saborosos sucos, cafés deliciosos, bolos e saladas de fruta carinhosamente preparados pela secretária Tânia.

Quiséramos que mais docentes estivessem presentes para participar do curso, haja vista a importância da leitura e por entendermos que esta foi uma oportunidade de fortalecer nossa formação, que sempre é contínua, visto que nunca estamos prontos. Não há aprendizado. O que existe é aprendizagem, como diz o professor Milton Marques Júnior. Mas, sejamos honestos, até gostamos do número reduzido de participantes, porque reconhecemos que quem lá estava, estava por bel-prazer, conferindo aos nossos encontros um caráter mais íntimo, favorecendo a descontração e o aproveitamento.

Ângela Bezerra de Castro (centro), o autor Léo Barbosa (à esq) e demais professores da rede pública estadual, Academia Paraibana de Letras @EscritorLeoBarbosa
Desejo que Academia Paraibana de Letras, bem como as tantas outras espalhadas pelo país, possam abrir cada vez mais as portas para a comunidade, em especial professores e estudantes da rede pública. O projeto Pôr do Sol literário, iniciativa de Juca Pontes e Hélder Moura, sendo este integrante da APL, é um grande exemplo do que se pode fazer para disseminar cultura e oportunizar contato com escritores e artistas locais. É preciso “desencantar o escritor paraibano”, como disse Luiz Augusto Crispim, em virtude do trabalho desenvolvido por Ângela Bezerra de Castro, como professora e crítica literária. Muitas vezes nos queixamos de não sermos lidos, mas somos nós mesmos que nos escondemos. “Todo artista tem que ir aonde povo está”. E os acadêmicos também.

2ª turma do Curso de formação de professores da Rede pública estadual, Academia Paraibana de Letras @EscritorLeoBarbosa
E que não se entenda mal nada do que foi dito. Não é uma crítica. É um apelo. Às academias, em sentido amplo (letras, ciências, cinema, história, poesia etc.), reitero: é preciso abrir suas portas para disseminar o que de melhor podem oferecer à comunidade. Assim poderemos promover as melhorias que tanto almejamos. Por fim, deixo minha gratidão a todos os professores e professoras que têm se esforçado para tornar este país, na medida do possível, melhor.

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