Havia um concerto naquela mulher miudinha. Ela dava aos fregueses de seu trabalho artesanal sorriso quase constante. A risonha meio-ido...

Dona Belinha

artesanato bordado
Havia um concerto naquela mulher miudinha. Ela dava aos fregueses de seu trabalho artesanal sorriso quase constante. A risonha meio-idosa, simplicidade das flores de prado, trabalhava a criação de universo de arames retorcidos, panelas pintadas, toalhas de mesa bordadas.

Permanecia ali, pouco conversadeira, contava e cantava. A voz afinadíssima. Se levada a incentivo, tornar-se-ia vencedora, receberia aplausos, quem sabe tomaria o mundo com sua arte? Modesta, conseguia juntar seu público
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na cidadezinha interiorana, nas cercanias da feira ou próxima ao único cinema ou quando algum circo era armado.

Sim, também tocava viola de ouvido, ou seja, desprezando pauta. Dava show sem maiores futuros senão expelir a sonoridade límpida de notas e solfejos, ao compasso perfeito de sua maravilhosa voz. Muitos adquiriam os produtos vendidos feitos por mãos de mulher calejadas por tempos difíceis.

Trabalhara, quando criança, na agricultura, plantando roçados, manejando cabos de enxadas. Os passarinhos pousavam perto dela ou cantavam nas árvores próximas; parava o trabalho, enxugava o suor, ficava escutando os bem-te-vis, rouxinóis e outros. Imitava-os bem dentro dela como se fora seu interior um galho, onde as aves fizessem ponto.

Ela despertava para a alegria dos sons e achava mágico, extremamente divino o dom concedido aos pássaros. Sempre reclamava do pai que engaiolava alguns deles para negociá-los.

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Dona Belinha aprendera com bom artesão a arte de criar seres com pedaços de arame. Quanto à pintura em toalhas e bordado lhe ensinara a mãe. Nos panos eram plantadas com linha e tinta motivos diversos, ricos em variedade, sempre inspirados na fauna, na flora, e continham mensagens de amor, alegria, paz. Gostava de bordar ou pintar pombinhas brancas.

Mulher feliz e realizada. Fora bonita jovem, todavia recusou casamento: dedicara-se, exclusivamente, ao artesanato. Sabia que formando família a arte dela seria prejudicada por falta de tempo, pois cuidaria da casa, do marido, dos filhos se viessem. A única solteira da família. Houve reclamações pela opção feita por Belinha, mas ela se manteve fidelíssima ao encantamento de sua vocação.

E o eco de sua voz esplendorosa de soprano faz da pequena cidade natal um salão de concerto. A viola repinicando melodias, revoluteando sons improvisados. Infelizmente, somente agora muitos de meus leitores sabem da existência exemplar de Dona Belinha.

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