O Brasil é isso aí mesmo. Fernando Henrique Cardoso para João Moreira Salles       Para Rolando Boldrin O Brasil é...

Sr. Brasil, prazer e pena

poesia paraibana jose neumanne pinto
O Brasil é isso aí mesmo.
Fernando Henrique Cardoso
para João Moreira Salles


 
 
 
Para Rolando Boldrin O Brasil é isso aí: munganga de sagui, moqueca de siri, delícia de abacaxi e licor de pequi. O Brasil é isso mesmo: um índio a esmo, um negro forro, tutu com torresmo. O Brasil é isso: um enguiço, chouriço, espinho de ouriço, ex-voto e feitiço, uma flor em pleno viço. Tem bê de bola, bunda rebola, bê de Boldrin, banzo de branco, ordem no tranco e progresso pra banco, muleta de manco. Erre de rói couro, a rota do ouro, erre de Rolando e Rolando Lero, de rato e rei, duplo em errei. Parece que acabou e nem sequer começou. A de Alagoas e Alagados, A de açude, vício e virtude. Esse só de sol e sal, de safo e sacana, mas sobretudo de sacripanta mesmo esse de santa. Esse de sonho bom ou medonho. I de inocente, como parece a nossa gente, de ilusão e injúria, de ignara incúria e ingênua luxúria, nosso importuno infortúnio. Ele de lenga-lenga, leve e molenga, também de lama, um lindo drama. Ele de lado, o lado bê da fama. Ele de Lampião, lutas e loas no mar do sertão. Ele de ladrão, pelo menos algum há. Ele de louco, cada um tem um pouco. Ele de luz, Axé, Jesus. Sr. Brasil, prazer e pena, ele é fugaz, ela é pequena. Torno ao degredo, nunca fui sério. Morro de medo, vivo um mistério. Levo um segredo pro cemitério. Sr. Brasil, pena e prazer: a pena é capital, e o prazer, mortal.

Do livro "Antes de atravessar",
disponível em 👉🏽 Ibis Libris  

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