janeiro 12, 2014
A ndei comparando a família a uma orquestra. Assim como esta, a família também desafina, e tem como maestro o pai. E haja dissonâncias, temp...
Andei comparando a família a uma orquestra. Assim como esta, a família também desafina, e tem como maestro o pai. E haja dissonâncias, temperamentos díspares, afinidades, que o chefe de família vai procurando harmonizar e amenizar.
Na nossa família paterna, houve poucas desafinações. Afinal o maestro era severo e sereno. Bastava o seu olhar, para que todos seguissem a partitura sem erro. Não me lembro que um de seus filhos tenha sido castigado, a não ser aquelas boladas nas mãos. O respeito que ele impunha ao conjunto sinfônico valia por um carão, uma admoestação mais firme. A batuta de sua autoridade funcionava.
O pai-maestro, José Augusto Romero, foi um exemplo de chefe de família, merecedor de todos os aplausos. Tinha as suas predileções, é claro, a começar pelo caçula, este que hora escreve. Isto, porém, jamais abalou seu senso de justiça. Amava muito as filhas Ivone e Iracema, que foi a última a nascer, passando a ocupar o posto de caçula. Ainda bem que uma minha tia, muito querida, dissesse para mim: “Você passou a ser o caçula dos homens”.
Mas vamos à orquestra familiar. O mais velho, respeitado por todos, e que, às vezes, substituía o maestro, era Mário, um rapaz bonitão, inteligente, ótimo jogador de vôlei e de futebol. Muito elegante, ele foi professor primário e depois universitário. Ensinava Finanças, disciplina árida, mas que ele com muito bom humor, sabia torná-la agradável. Bastante querido dos alunos, o nosso mano soube desempenhar bem o seu posto de irmão mais velho.
E vamos aos outros: Alberto, que foi jornalista e escritor, deixou um gostoso livro: “O assunto é jornal”, um relato de suas experiências de jornal. Ele chegou a redator-chefe do “Jornal do Brasil”, lá do Rio.
E agora falemos de Orlando, que foi agrônomo e terminou ocupando a carteira de fiscal agrícola do Banco do Brasil. Não teve filhos, assim como Alberto. Orlando era gago e, quando se zangava, era um desespero. Certa vez chamou uma vizinha austera, já idosa, de “Washington Luiz”, candidato à presidência do Brasil. A velha, irritada, foi fazer queixa à minha mãe, que depois de receber a reclamação, disse com os seus botões: “ela bem queria ser “Washinton Luiz”. Ainda bem que o maestro não soube disso...
E chegamos a Ivone, loira, bonita e, sobretudo, de excelente gênio. Foi minha companheira de meninice. E lamentava não ter uma irmã para brincar. Valeu-se de minha companhia. Ela chegou até a me ensinar a brincar com bonecas, ora vejam só... Ivone tocava piano e era muito dedicada ao teclado. Meu irmão do primeiro casamento de minha mãe, Eudes, poeta, jornalista e historiador, certa vez aborreceu-se com os repetidos exercícios pianisticos de Ivone, e escreveu estes versinhos:
“Ó Dona Ivone, este seu piano é impertinente
Eu só queria que ele se quebrasse um dia, de repente”
Mas terminemos fazendo referência à caçula das mulheres, Iracema, cujo nome foi sugerido pelo irmão Eudes Barros, inspirado na personagem de José de Alencar. Iracema casou-se com o urologista Domilson Maul de Andrade, com quem teve quatro filhos. Era louca por música. E depois que ganhou do marido um piano de cauda, não quis mais outra coisa na vida. Mas, para o marido viúvo, o piano continua tocando, na sua imaginação saudosa. Ele é vizinho do mar de Tambaú, em cuja calçada faz suas caminhadas, ao lado de amigos.
A verdade é que a nossa orquestra familiar funcionou muito bem. Seu maestro, com austeridade e senso de responsabilidade, saiu do tablado sob aplausos.
janeiro 12, 2014
janeiro 11, 2014
J á li muitos livros sobre a felicidade, que se não me fizeram mais feliz, pelo menos me deram tranqüilidade interior. E a melhor definição ...
Já li muitos livros sobre a felicidade, que se não me fizeram mais feliz, pelo menos me deram tranqüilidade interior. E a melhor definição que encontrei sobre essa deusa foi a seguinte: “Felicidade é ter a consciência tranquila”. E o que é uma consciência tranquila? É uma consciência sem remorsos, arrependimentos, frustrações, mágoas e ódio. Difícil, não?
E nessa transição de ano eu andei tateando os livros de minha biblioteca e fui encontrar um de autoria do filósofo Bertrand Russel, cujo título é “A conquista da felicidade”, cheio de anotações minhas... O simpático e lúcido pensador inglês escreveu sobre um tema da chamada Autoajuda, que é mais se vê nas livrarias, porquanto as depressões estão infelicitando muita gente. Depressões que vêm das frustrações. E a maior delas é o exercício de uma profissão para a qual não se tem vocação, por melhor que seja a remuneração. Uma prova de que o dinheiro não é tudo.
Em seu livro, Bertrand Russel aponta a inveja como um revólver apontado para a gente. Infeliz, portanto, quem inveja. E chega a esta assertiva: “Os mendigos não invejam os milionários, mas invejam quando outro mendigo melhora de situação”.
Outra causa de infelicidade é o medo da opinião pública – diz o filósofo, pois o importante é o que você pensa. Russel ainda preleciona que quanto mais a gente possui interesses, melhor, pois mais interessante a vida se lhe torna.
Outro fator de felicidade: interessar-se pelos outros, consequentemente não ser egoísta. E conclui este filósofo sereno e feliz: “A fórmula da felicidade é ter apetite para a vida assim como temos apetite para a comida”. Nada de enjôo existencial, nada de náuseas.
E ele narra uma história que um rei pediu aos seus assessores que saíssem pelo mundo e lhe trouxessem a camisa de um homem feliz. Os assessores andaram, procuraram, e a resposta das pessoas era sempre negativa, até que avistaram um pescador à beira de um lago, pescando. E perguntaram se ele era feliz. Este disse que sim. Aí lhe pediram a camisa. O homem respondeu que nunca tinha vestido uma camisa...
Termino a crônica e constato que também estou sem camisa, aqui, no gabinete, não diante de um lago, mas de um computador. Porém, feliz!
E muita paz para os leitores neste balbuciar de 2014.
janeiro 11, 2014
janeiro 11, 2014
E sse foi um medo que angustiou muitas tias do passado, o medo de não arranjar um casamento, de ficar no caritó. Daí elas procurarem as retr...
Esse foi um medo que angustiou muitas tias do passado, o medo de não arranjar um casamento, de ficar no caritó. Daí elas procurarem as retretas noturnas da praça João Pessoa, aos domingos, objetivando encontrar o seu príncipe. Tinham horror que a chamassem, em voz alta, de tia. Uma delas me passou um carão, quando ao avistá-la, fui logo gritando, no maior entusiasmo: Titia, Titia, benção?”
Mas, nenhuma delas ficou para titia. Todas se casaram, tanto as do lado materno, que foram muitas, quanto as do lado paterno.
E tinham nomes lindos: Alzira, Nautília, Ninália, Anília, Auta, Ester, Clarice. Será que me esqueci de alguma? Acho que não, lembrando que as tias paternas conviveram pouco comigo. Mas vou começar citando-as com a minha saudade. E digo sem medo de errar: todas foram ótimas esposas.
A minha querida e jamais esquecida Auta de Luna Freire, professora da Escola Normal, era bonita, elegante, e de uma altivez admirável. Casou-se com um comerciante baiano, mas não deu certo. Não quis mais pensar em matrimônio. Muito culta, num mês de São João, com os foguetões explodindo lá fora e as fogueiras clareando a noite, ela me deu como presente de aniversário um livro de História. Nada de fogos, nada de traque de chumbo, nada de estrelinhas. Um livro enriquecido com a sua dedicatória. Como adorei esse gesto! Agora estou me lembrando de tia Anília, que me dava lições de datilografia e de otimismo. Nunca vi sombras naquele rosto. Tia Anília foi um amor de tia. Casou-se com Henrique, muito mais moço do que ela, mas com quem muito se entendeu.
Estou agora no computador que mantém o mesmo teclado da máquina datilográfica, inventada por um paraibano conhecido por Padre Azevedo, e que por sinal é patrono da cadeira 27, da nossa Academia de Letras, de que sou membro.
Tia Anília, tia Autinha, tia Ninália, esta sempre muito reservada, mas de ótimo astral. E tia Nautília? Muito linda. Apaixonou-se por um italiano chamado Vitório, e se foi. Ela era muito baixinha. Certa vez, achou de tirar uma foto, trepada num tamborete, para não ficar tão desnivelada do marido. Este tinha uma linda voz de tenor. Uma simpatia de homem. Todas, com exceção de tia Autinha e Ninália foram morar no Rio de Janeiro, deixando-nos uma profunda saudade.
Agora falemos das tias Ester, esposa do jornalista José Leal, irmã do meu pai; Totônia, que morava no Araçá. Ainda, por via materna, evoquemos tia Alzira, sertaneja de Patos, casada com o destemido e simpático Vicente Jansen, major da nossa Polícia Militar. Este casal sempre se hospedava na nossa casa, lá do sítio da Lagoa. O major Jansen era pai do desembargador Orlando Jansen.
Esprememos mais a memória e evoquemos, aqui, uma tia paterna, mulher linda, mãe de duas filhas que não ficavam atrás em questão de beleza. Clarice, que era casada com um dentista, chamado Ciro. Sempre otimista, vivia sorrindo para a vida. E quem sorri para a vida, por uma questão de reflexo, também se ilumina. Essas as tias com quem convivi mais. Elas continuam, vez por outra, desfilando na passarela de minha memória.
E evoquemos novamente tia Anília. Graças a ela, como já disse, estou datilografando neste computador.
E viva a saudade, que torna a ausência em presença. Afinal o homem não é apenas um animal que pensa, mas um animal que ainda chora de saudade. Saudade do que se foi, mas que não se perdeu...
janeiro 11, 2014
janeiro 10, 2014
A leitura de textos curtos é uma ótima opção para aprender e praticar inglês. Se você gosta de histórias de suspense, bruxas, fantasmas e...
A leitura de textos curtos é uma ótima opção para aprender e praticar inglês. Se você gosta de histórias de suspense, bruxas, fantasmas e casas assombradas, experimente imergir no agradável passatempo proporcionado nos sites abaixo. Eles contêm diversos contos (escritos e em áudio) que podem ser lidos e ouvidos em questão de minutos. Boa leitura e prepare-se para sentir, a cada relato, aquele arrepiante calafrio na espinha.
janeiro 10, 2014
janeiro 06, 2014
M as continuemos evocando minha mãe, esta mulher extraordinária, cuja vida foi um exemplo de dedicação, coragem e grandeza moral. Minha gran...
Mas continuemos evocando minha mãe, esta mulher extraordinária, cuja vida foi um exemplo de dedicação, coragem e grandeza moral. Minha grande confidente, foi ela quem me despertou para as letras, contando histórias lindas, noite a dentro. Histórias de fadas e de bruxas, que excitavam a minha imaginação. E quando a asma me levava para a cama, aí que era bom ouvi-la.
Sim, sofri de asma, na minha adolescência. Não houve remédio que desse jeito. Até que surgiu uma comadre de minha mãe, aconselhando que ela me desse um remédio, cujo nome eu não devia saber: chá de barata. Minha mãe sorriu e agradeceu a informação, debaixo de muitos sorrisos.
Mas o bom da doença era ficar na cama, ouvindo suas belas e acalentadas narrativas, noite a dentro. Minha mãe lia muito. E foi ela quem leu para mim todo o romance de José Lins do Rego “Menino de Engenho”. Charadista de primeira, ela adorava decifrar enigmas, charadas e resolver palavras cruzadas. Enquanto meu pai era um apaixonado pela Natureza, ela sonhava em morar numa cidade grande. Sua alimentação era muito saudável. Não dispensava o suco de cenoura com beterraba e laranja, depois da refeição matinal. Daí ter atravessado mais de um século de existência com muito apetite. Gostava dos vestidos alegres e estampados. E sempre me dizia: “Meu filho, velhice quer trato”. Nada, portanto, de relaxamento. Otimista, dona Pia nunca perdeu sua jovialidade.
E meu pai? Nunca as diferenças se uniram e se harmonizaram tanto. E eu adorava vê-los aos beijos. Eles tinham grande respeito entre si e aos outros.
E agora a história do castigo, que deu título à crônica. Eu mantinha um jornalzinho manuscrito denominado “O Riso”, que circulava na Rua Nova, onde morávamos. Pois bem, só porque chamei, no jornal, uma moça, nossa vizinha, de “fogosa”, meu pai, constrangido porque os pais dela foram lhe tomar satisfações, me deu uma dúzia de “bolos”. Minha mãe não gostou. Lembro que este foi o único castigo que recebi dele. Mas o jornalzinho manuscrito continuou saindo. Agora com outro nome: “O Choro”, ao invés de “O Riso”. Minha mãe deu uma boa gargalhada.
Meus pais! Como eu os adorei e os compreendi... Difícil evocá-los sem aquele nó na garganta...
E, aqui para nós, eles adoravam o caçula, que, infelizmente, foi destronado pela irmãzinha Iracema, o que me deixou no canto. Mas a vida é assim, cheia de novidades, encantos e desencantos.
Meu pai era homem de muito amor, mas um zero à esquerda em humor. Ele levava tudo a sério, era o contrário de minha mãe, sempre bem humorada. Certa vez, estávamos tomando banho, aqui em Tambaú, e meu pai na areia, quando minha tia Ninália, muito irônica, olhou para o nosso mestre e fez o desafio: ”Zé Augusto, você que é um homem de fé, venha andando sobre as ondas, como fez Jesus! Todos sorriram. Mas ele não deixou de escapar nem um meio sorriso.
Bebia muito... Mas só água de coco. Um dia, chegou a dizer: ”como é que se troca uma bebida dessa por cachaça ou uísque...”
E ficam aqui essas recordações de meus pais, que tanto enriqueceram a minha vida.
janeiro 06, 2014
janeiro 05, 2014
Em virtude de suas possibilidades técnicas, o piano é considerado um instrumento completo. Sua sonoridade abrange registros que vão dos ma...
Em virtude de suas possibilidades técnicas, o piano é considerado um instrumento completo. Sua sonoridade abrange registros que vão dos mais graves aos mais agudos. Por isso, sempre foi o preferido dos compositores ao longo da história da música, que o utilizaram para compor óperas, sinfonias, concertos, cantatas...
janeiro 05, 2014
janeiro 05, 2014
C omeço pela maledicência, esse vício de falar mal dos outros. E o maledicente sempre pretende ser melhor do que os ausentes, de quem se fal...
Começo pela maledicência, esse vício de falar mal dos outros. E o maledicente sempre pretende ser melhor do que os ausentes, de quem se fala. Maledicência é baixeza de caráter. Fuja do maledicente como se ele portasse doença contagiosa, pois vibração negativa, às vezes, nos contamina.
Tenho pena dos impacientes, que estão sempre reclamando do que acontece na vida, aparentemente, de errado. Se estão num trânsito congestionado, haja palavrão, haja irritação. Irritação até quando o sinal está vermelho, esquecido de que para os outros, a sinalização está verde. Mas o diabo é que muita gente que só pensa em si. E quanto ao congestionamento, por que não aproveitar essa oportunidade para ouvir uma boa música, e, se não estiver ao volante, ler um livro, ou aproveitar para uma reflexão, coisa que poucos estão fazendo: conversar consigo mesmo.
Lamento as pessoas mal humoradas, que olham a vida como se o mundo estivesse fedendo. Nada de um sorriso, que tanto alegra a alma.
Não gosto de cigarro perto de mim, conquanto tenha sido um fumante inveterado, mas que deixei o vício bem a tempo, graças a uma forte taquicardia. Se não estivesse abandonado o fedorento mau hábito, teria apressado minha morte. Agora esta reflexão: já imaginaram ou sentiram o hálito do fumante, manhã cedo, ao acordar?... Nem queira. Aqui fica o conselho: Aprenda a respeitar a sua saúde. Saúde e paz são nossas melhores riquezas.
Também lamento as pessoas que não cumprimentam as outras, como se fossem robôs. Que não sabem dar um “bom dia” ao entrar num elevador. Como é saudável um cumprimento!
Gosto dos otimistas, que alegram a vida, que carregam amor e entusiasmo na alma. As grandes descobertas dependeram do entusiasmo, que, etimologicamente, é Deus dentro de nós.
Gosto dos que gostam de ler, dos que estão sempre bem informados, dos que preenchem os vazios do tempo com um livro sob os olhos.
Gosto de viajar. A viagem nos dá experiência e nos multiplica. É salutar conviver com novos costumes, novas pessoas, novos climas. Isto nos torna mais humanos, mais maduros, mais compreensíveis.
Por fim, confesso que não gosto de mim, se porventura cometo alguns deslizes apontados acima. Afinal, saber reconhecer seus próprios é a maior das virtudes.
janeiro 05, 2014
dezembro 29, 2013
Não é raro a gente ouvir que uma cidade está sendo invadida por dunas, pelas águas do oceano ou pelas labaredas de um incêndio. Mas é inus...

Não é raro a gente ouvir que uma cidade está sendo invadida por dunas, pelas águas do oceano ou pelas labaredas de um incêndio. Mas é inusitado que uma pequena aldeia seja literalmente 'engolida' por rochas imensas!
dezembro 29, 2013
dezembro 27, 2013
S im, agora chegou a vez de falar de minha mãe, a abnegada companheira de meu pai, que lhe deu oito filhos, sendo que dois saíram da vida, c...
Sim, agora chegou a vez de falar de minha mãe, a abnegada companheira de meu pai, que lhe deu oito filhos, sendo que dois saíram da vida, cedo, Hamilton e Hilda.
A verdade é que meu pai soube escolher a esposa, Pia de Luna Freire, uma mulher lindíssima. Mais do que isto: inteligentíssima. Muito jovem ainda, achou de se inscrever num concurso público para funcionária dos Correios e Telégrafos, e saiu-se muito bem. Isto numa época em que o preconceito social fazia restrições à mulher como funcionária pública. Lembrando que o preconceito é uma praga denunciada até pelo genial Einstein, que chegou a dizer: “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. E Dona Pia não quis saber, submeteu-se ao concurso federal, foi aprovada e pronto. Nada de ser pesada ao marido.
Mas não durou muito o seu estado de solteira, o que não é de se estranhar, pois se tratava de uma linda mulher. Linda e inteligente. Inteligente e culta, sem nunca ter passado pelos bancos de uma universidade. Sua caligrafia, de que ela muito se orgulhava, chamava a atenção de todo mundo, inclusive de Delmiro Gouveia, famoso comerciante de Alagoas, que, ao ver a escrita de minha mãe, foi logo dizendo ao meu avô Vicente de Luna Freire, com quem comerciava couro: “Que bela caligrafia a de sua filha!“
Pois bem, minha mãe casou-se em suas primeiras núpcias com Alfredo Barros, que lhe deu dois filhos: o escritor e historiador Eudes Barros e Alfredo. E ficou viúva, pois o marido morreu em conseqüência de uma pancada de vento frio, manhã cedo, ao abrir uma porta, e, como disse no inicio, não demorou muito sua condição de viuvez. José Augusto Romero, diante daquela beleza, não pensou duas vezes, e, por outro lado, o homem era um bom partido. Alto, corpo de atleta e de um olhar sério e sereno. Um olhar que via longe...
Meu pai já era espírita e minha mãe, católica, a quem cabia a responsabilidade de zeladora do Coração de Jesus, lá na igreja. Não demorou muito e ela deixou o Catolicismo pelo Espiritismo. Não resistiu à dialética de seu segundo marido. Não foi uma espírita militante, mas adorava Chico Xavier, cujos livros psicografados lia com profundo interesse. Estava sempre presente às palestras na Federação Espírita Paraibana.
Minha mãe tinha uma personalidade muito forte. Foi uma das primeiras mulheres a cortar o cabelo bem curtinho, o que causou estranheza na sociedade de Alagoa Nova. Acontece que ela, vez por outra, ia à Capital, onde já era moda o cabelo curto. As matutas preconceituosas de então não gostaram da novidade e Dona Piinha foi muito criticada.
A verdade é que o casal se deu muito bem, conquanto os temperamentos fossem bastante diferentes. Dona Pia – já ia me esquecendo – era louca por música erudita e exímia flautista. E seu pai Vicente, meu avô, clarinetista. Melómana, minha mãe tinha uma sensibilidade admirável. Seu ídolo era Chopin. Muitas vezes vi lágrimas correndo pelo seu rosto, ao ouvir os concertos do famoso polonês.
Apesar da diferença de temperamentos e gostos, o casamento de meu pai foi um exemplo de abnegação. E o caçula adorava os dois, conquanto a mãe fosse sua grande confidente e a quem deve o gosto pelas letras, pois ela foi uma grande contadora de histórias!
dezembro 27, 2013
dezembro 22, 2013
S e não estou equivocado, a observação é de José Américo, que me retifique a escritora Lourdinha Luna: “Chegar à janela é como ir pra rua s...

Se não estou equivocado, a observação é de José Américo, que me retifique a escritora Lourdinha Luna: “Chegar à janela é como ir pra rua sem sair de casa". Ora, ora, no tempo em que não havia televisão nem computador as pessoas viviam debruçadas nas janelas para um bate-papo com os vizinhos ou com os que iam passando na calçada.
A janela propiciava uma fuga momentânea no cotidiano, por sinal muito humano. E haja fofocas. A janela era a TV de outrora. E não era apenas a solteirona que se debruçava na janela. Os mais idosos adoravam aquela diversão sem sair de casa. Lembro-me que, na antiga Rua Nova, onde as casas não tinham terraço, vi muita gente ilustre debruçada sobre as janelas olhando a rua lá fora, a exemplo do ex-presidente do nosso Estado, general Camilo de Holanda, e o historiador Coriolano de Medeiros, ilustre fundador da nossa Academia Paraibana de Letras. O general não chegava a se debruçar na janela. Tomava uma posição militar, de pé, como se estivesse assistindo a um desfile.
Mas tinha vez que as janelas não eram suficientes para os bate-papos, os colóquios, os disse-me-disse, as fofocas, que existem, desde que o mundo é mundo. Nessa circunstância, a solução era colocar cadeiras na calçada... Aí os papos iam longe.
Casas com janelas, com sala de visita. Visita que se pagava. Muita gente dizia: “estou devendo uma visita a fulano ou fulana”. Casa sem vigilantes, bastava chegar à porta e gritar: “Ô de casa!” E vinha a voz de dentro: “Ô de fora”...
Hoje, não vemos mais janelas, e sim, longos edifícios, todos apostando altura. Edifícios tapando a visão dos horizontes, humilhando a vegetação cá em baixo, obstaculando paisagens, interceptando a passagem do vento. Mas, todos com suas áreas de lazer, piscina, esporte, repouso, que a vida precisa ser vivida com muito luxo. Só não vejo área para a leitura, espaços para reflexão, uma conversa consigo mesmo.
E os apartamentos? Excelentes, mas as pessoas estão loucas para entrarem no elevador e sair daquela prisão de não sei quantos andares, porquanto a rua ainda é uma atração, com seus restaurantes, shoppings e outros entretenimentos. E sair sem esquecer o celular, para dar adeus àquela prisão de não sei quantos andares, onde ninguém se debruça na janela...
dezembro 22, 2013
dezembro 22, 2013
T odo fim de ano tem cheiro de saudade. E saudade é sede de presença, presença que virou ausência. Nesta passagem do ano, que tal reservar u...
Todo fim de ano tem cheiro de saudade. E saudade é sede de presença, presença que virou ausência. Nesta passagem do ano, que tal reservar um momento para umas reflexões, pensar nos que se foram? Pensar no que fizemos de bom ou de mau?
E se você tem um saudável hábito de conservar na parede as fotos dos que se foram, muito bem. Mas são tão poucos os que conservam esse hábito, os que não mataram em si a saudade dos ausentes. Que apenas costumam, no Dia dos Mortos, ir ao cemitério para acender uma vela no túmulo dos seus familiares e amigos. Ainda pensam que os seus mortos estão ali, debaixo da terra, aguardando a sineta do Juízo Final, quando será decidido o seu destino, isto é, se vão para o céu, para o inferno ou purgatório. E não me digam que não é assim que muitos pensam...
Mas, como eu ia dizendo, a passagem de um ano mexe um pouco com a gente. Parece que o tempo está nos perguntando, o que fizeste de tua vida? Continuas com os mesmos vícios, os mesmos erros? Só os animais ficam indiferentes à passagem de um novo ano. Mas o homem, este animal que pensa, que reflete, que indaga.
Afinal, o que estamos fazendo no mundo? Que pergunta para mexer com a gente, hein?... Aliás, toda pergunta leva a uma reflexão. E o grande Sócrates perturbou muita gente com as suas indagações.
Um novo ano está para chegar. Quais são nossos planos? Será que vamos repetir os mesmos erros? Que tal uma fugidinha da vida e nos recolhermos um pouco dentro de nossa interioridade? Que tal uma conversa íntima?
Mas para isso é necessário certa coragem e ao mesmo tempo humildade. Afinal, a vida tem um sentido? Por que estamos no mundo? Se você despertasse , dentro de um navio, qual seria sua primeira pergunta? Evidente que interpelaria: para onde estão me levando, o que estou fazendo, aqui
Vamos, portanto, assistir à passagem silenciosa do novo ano e procurar nos renovar, interiormente, porquanto você é um animal, mas racional. E não esqueçamos: toda passagem de ano tem um cheiro de saudade, de adeus, de mistério, o insondável mistério: por que estamos neste mundo?...
dezembro 22, 2013
dezembro 21, 2013
A ópera é uma manifestação artística que combina diversas formas de expressões culturais, reunindo, em uma só obra, música sinfônica, cant...

A ópera é uma manifestação artística que combina diversas formas de expressões culturais, reunindo, em uma só obra, música sinfônica, canto lírico, dramaturgia, literatura, dança e cenografia.
dezembro 21, 2013
dezembro 21, 2013
U m dos orgulhos de meu pai, José Augusto Romero, o bom orgulho, saliente-se, é ter sido correspondente assíduo do maior médium do mundo, Fr...
Um dos orgulhos de meu pai, José Augusto Romero, o bom orgulho, saliente-se, é ter sido correspondente assíduo do maior médium do mundo, Francisco Cândido Xavier, o boníssimo Chico, quase cego, de cultura primária, mas, assim mesmo, psicografando obras de caráter científico, que eu mesmo encontro dificuldade de entender, a exemplo de “Mecanismos da mediunidade”, de André Luiz, “Evolução em dois mundos”, e “Pensamento e vida”, de Emmanuel.
José Augusto Romero foi eleito por aclamação e presidiu a Federação Espírita Paraibana durante 44 anos. Só deixou o cargo por questões de saúde. E que delícia de passes magnéticos ele me dava. Tolerante, sereno, responsável, severo em algumas coisas, sobretudo quando soube que, para me casar com a minha primeira esposa, Carmen, esta me pediu para que eu fosse batizado na igreja católica. A princípio relutei, mas o amor venceu a barreira que se antepunha entre nós dois. Resolvi atender à rogativa da noiva.
Para o batismo exigia-se uma preparação. E foi um bispo, amigo da família da noiva, que se encarregou deste ofício. O simpático sacerdote fez uma ligeira preleção sobre o batismo. E, sabedor de que eu era espírita, muito me surpreendeu quando disse que simpatizava muito com o Espiritismo e que o importante era amar a Deus.
Do meu pai nenhuma reação. Compreendeu a situação e foi um dos primeiros a comparecer ao meu batismo, lá na Igreja das Graças, em Recife. Aí eu vi como eram grandes a sua tolerância e compreensão. Assistiu ao ato religioso com muita serenidade. Minha noiva, Carmen, não cabia em si de contente. E uma de suas tias, por sinal muito carola, quando me viu depois de batizado, abraçou-me e disse: “Você agora está sem pecados. Você agora é um anjo”. E eu cheguei a sentir que estava criando asas...
Toda reação ao meu estado de pagão foi da família da noiva, principalmente de minha sogra Isaura, viúva do grande arquiteto Clodoaldo Gouveia. Ela era muito católica e fanática. Não queria falar em Espiritismo, mas depois que Carmen desencarnou, foi a primeira a indagar: “alguma notícia dela?” Ela já estava acreditando no intercâmbio mediúnico. Não quis acreditar no que estava ouvindo...
Voltemos a falar sobre meu pai que morreu de câncer de próstata. Fui ao sepultamento de seu corpo, lá no Cemitério da Boa Sentença, numa manhã de muito sol. Muita gente compareceu ao enterro. Eu não cheguei a chorar, fui possuído de uma profunda serenidade. Fiz uma ligeira oração. E terminei dizendo: “Até logo, papai”. Na saída, vieram os pêsames dos amigos presentes, inclusive do governador e meu conterrâneo de Alagoa Nova, Pedro Gondim, que me disse, num cochicho: !que beleza de religião a sua! Quanta força ela lhe deu... ”
Não olhei para baixo. Não, meu pai não estava, ali. Elevei o olhar que me mostrou um céu muito azul e sereno. Cheguei a ouvir um passarinho cantando sobre um túmulo, como que saudando aquela manhã de sol. Imaginei meu pai, na vida espiritual, sendo muito bem recebido. E, sem dúvida, com muita saudade do caçula que ele tanto amou.
Para amenizar as saudades dele, selecionei suas crônicas publicadas, neste jornal, no livro “Lições da vida maior”. Não me esqueço de uma confissão que ele me fez, certo dia: “Meu filho, a grande lei da vida é a da reencarnação. A única que tem resposta para o problema do ser, do destino e da dor”.
dezembro 21, 2013
dezembro 15, 2013
S im, depois que ele assistiu a uma sessão mediúnica e leu o livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, tornou-se espíri...
Sim, depois que ele assistiu a uma sessão mediúnica e leu o livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Léon Denis, tornou-se espírita até os ossos. E haja palestras, artigos doutrinários, inclusive neste jornal, conversa com os espíritos, sessões mediúnicas, aulas de evangelização. O homem não queria outra coisa na vida.
Ele era muito elegante, quer no traje, quer no comportamento. Elegante só, não. Meu pai era muito bonito. Tanto é assim, que, numa palestra lá na Federação Espírita Pernambucana, uma senhora, no auditório, indagou à minha mãe, sentada ao seu lado: “Donde é aquele senhor? E minha mãe: “É o presidente da Federação Espírita Paraibana”. A mulher não pensou duas vezes, foi logo dizendo: “Bonitão!
E ele era elegante em tudo. Não só na maneira de falar, de se vestir, de se portar. Sério, sem ser sisudo. De sua boca, ouvia sempre a palavra “caráter”, que para ele era tudo num homem... Não admitia desonestidade, mormente no que tange à administração pública.
A Federação, então sediada lá na rua Treze de maio, era agora a sua segunda casa. Teve bons assessores, a começar por José Pereira da Silva, conhecido por “Seu Zuza”, alto funcionário da Alfândega, e a quem foi confiada a farmácia homeopática. Seu Zuza era calado, responsável e de uma mansidão admirável.
Pelo Natal, “Seu Romero” - era assim que o chamavam - promovia o Natal dos Pobres, com a distribuição de roupas. A fila tomava toda a extensão da rua.
Foi ele quem apresentou o extraordinário médium Divaldo Franco à Paraíba. Divaldo era um jovem de 18 a 20 anos. Muito bonito, cujo verbo botou e continua botando muita gente no Espiritismo. O médium se hospedava na nossa casa, lá em Tambiá, na Odon Bezerra.
Depois a Federação mudou-se para o Parque Sólon de Lucena, num terreno doado pelo espírita e paraibano Artur Lins de Vasconcelos, residente no Paraná, onde comercializava madeira.
José Augusto não desejou outra coisa na vida: dedicar-se, inteiramente, à Doutrina codificada por Allan Kardec. E tudo ia muito bem, quando o jornal católico “A Imprensa”, sediado na Praça do Bispo, trouxe um artigo violento do padre Hildon Bandeira, sob o título “Guerra ao Espiritismo”. O artigo era o início de uma série.
O fato chegou ao conhecimento do manso José Augusto Romero, que não era homem de polêmica. Constrangeu-se muito com o fato. Sua consoladora doutrina não merecia aquelas violentas catilinárias. Foi aí que José Augusto Romero convidou o advogado espírita Horácio de Almeida para responder ao padre, já que o convidado adorava uma polêmica. E começou a guerra dos artigos, Horácio neste jornal, A União, e o padre no matutino católico. O resultado é que Dom Adauto, arcebispo na época, diante das fortes acusações à Igreja, baseadas na História, feitas pelo Dr. Horácio, findou determinando que aquela guerra acabasse. E eu fico imaginando se o nosso atual e ecumênico arcebispo, Dom Aldo tivesse assistido tal polêmica, ele que, hoje, juntamente com o pastor Estevam Fernandes, assistem reuniões na Federação Espírita Paraibana, ouvindo, encantados, o verbo eletrizante do médium Divaldo Franco...
dezembro 15, 2013
dezembro 14, 2013
Como se conjuga o verbo colorir na primeira pessoa do singular? E os verbos fluir e chover ? Será que existem tais formas de expressão? ...

Como se conjuga o verbo colorir na primeira pessoa do singular? E os verbos fluir e chover? Será que existem tais formas de expressão? E quanto à língua inglesa? As declinações na terceira pessoa sempre recebem um S no final?
dezembro 14, 2013
dezembro 08, 2013
S im, Jesus era luz. E foi ele quem disse: “Eu sou a luz do mundo”. Acontece que as trevas da nossa ignorância e maldade não o compreenderam...
Sim, Jesus era luz. E foi ele quem disse: “Eu sou a luz do mundo”. Acontece que as trevas da nossa ignorância e maldade não o compreenderam.
E ele não rima com cruz. A cruz que o martirizou, que o fez sangrar. Não. Para que estar lembrando daquele instrumento de tortura? A cruz lembra a caminhada sob os açoites dos seus acusadores, a cusparada no seu rosto pingando de suor, os pés feridos, os pés que caminharam em busca da paz e do amor, as mãos que limparam leprosos e que levantaram paralíticos. E como se fosse pouco, Ele, morto de sede, pediu água e lhe deram vinagre.
E, assim mesmo, já quase morto, o sangue escorrendo pelo rosto devido à coroa de espinhos, ao invés de uma lamentação, de um protesto, Ele endereçou apenas, uma prece a Deus, dizendo: “Pai perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”.
Portanto, esqueçamos a cruz e lembremos a luz. A luz que iluminou a manjedoura humilde, onde Jesus abriu os olhos para o mundo. Nenhum palácio, por mais luxuoso que fosse, haveria de brilhar tanto como aquele feixe luminoso anunciando a sua chegada.
Luz, sim, foi o que Ele foi, não esquecendo que divindade significa iluminação, e que temos dentro de nós uma glândula chamada epífise, que já foi objeto de estudo de Descartes, que se ilumina toda vez que fazemos o bem. Está ainda ligada ao sexo. Mas isto prova mais uma vez a importância da luz. Daí Jesus sempre dizer: “Brilhe a vossa luz. ”
Que este Natal, tão mundano, não se ilumine somente de luz elétrica, mas também de luz espiritual. Que seja um Natal de Jesus e não de Papai Noel, o ídolo do consumismo.
Que brilhem as estrelas, que brilhe o sol, que brilhe o sorriso, que é uma espécie de luz no rosto. ”Luz, mais luz!” - pediu Goethe ao morrer.
Estamos comemorando o Natal, isto é, a chegada de Jesus ao mundo, que não trouxe presente para ninguém, já que Ele foi o grande e precioso presente que Deus nos deu.
Não esqueçamos: Jesus luz! Jamais Jesus cruz. Abandonemos, portanto, a cruz. Nada de perpetuá-la em forma de medalhas, imagens ou crucifixos nas paredes.
Luz é vida, é sorriso, é alegria, é saúde. Luz é ressurreição. Nada de cruz. A luz é tão importante, repito, que Jesus chegou a vê-la, no homem, quando sentenciou: “Brilhe a vossa luz!”
dezembro 08, 2013