Música é fator de encantamento para todos, na diversidade de idades, épocas e acontecimentos. Para nós, médicos, que vivenciamos o sofriment...

Música para nós, médicos


Música é fator de encantamento para todos, na diversidade de idades, épocas e acontecimentos. Para nós, médicos, que vivenciamos o sofrimento alheio, representa não apenas a busca da beleza, mas também a conquista de tranquilidade, relaxamento e conforto.

Não me refiro aos mais dotados, compositores ou instrumentais, mas, aos que como eu são apenas capazes de sentir e de amar as peças musicais. Por isso, nessas palavras sintéticas, serei mais “pessoal”, trazendo aos colegas e ao público algo do que vive em meu espírito e envolve minhas atividades.

Sabemos que não são raros os exemplos de médicos aptos à análise profunda de obras célebres. Um dos quais permanece ainda muito viva na minha memória, é a do sempre saudoso e emblemático Mestre, Luiz V Décourt, emérito catedrático da faculdade de medicina da USP, que tive a honra e o privilégio de ter sido seu discípulo. Sua erudição e genialidade estão expressas no admirável estudo que fez do Quarteto nº 14, opus 131, de Beethoven, um dos mais importantes de um conjunto de obras magníficas para cordas.

Por outra, compreendemos certas limitações contemporâneas. Não há dúvida de que os progressos e as exigências da medicina moderna vêm acarretando nosso maior distanciamento, temporal e mental, das atividades musicais. E essa ocorrência é lamentável.

A estranha e conhecida frase de Stravinsky contida em sua autobiografia: “A música, por sua própria natureza, é impotente para expressar qualquer coisa”, deve ser entendida apenas como uma afronta a oponentes estéticos que atribuíram às peças musicais fins extramusicais.

Sabemos ainda que na Idade Média um programa de cultura geral abrangia o estudo de sete artes liberais, herdadas da Antiguidade. Elas eram agrupadas em dois conjuntos: o Trivium, abrangendo três artes literárias (gramática, retórica e didática) e o Quadrivium, ulterior, com quatro disciplinas “matemáticas” (aritmética, geometria, astronomia e teoria musical). Como acentuou o competente educador, Prof. Monroe, “A ciência musical abrange essencialmente as leis numéricas que regem a harmonia. O estudo da estrutura dos intervalos e da rítmica introduz os indivíduos no mundo da melodia".

E a magia permanece expressiva, alentadora, sem declínio. Perante o universo da música, a minha experiência na prática clínica da medicina autoriza-me a afirmar que ela modifica o ambiente que nos envolve e favorece a sensação de uma plenitude de vida. Essa sistemática sublime vem constituir ao médico um ambiente suave no seu mister diário dos consultórios, dando-lhe maior tranquilidade para formulação do diagnóstico e evidentemente amenizando o estado de inquietude, ansiedade e medos dos seus pacientes.



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  1. Anônimo8/6/20 00:39

    Puxa, Fernando, quanta sensibilidade exposta num excelente texto!
    Parabéns!
    Zé Mário Espinola

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