A quinta sinfonia de Gustav Mahler bem expressa a turbulenta alma de um artista. Tudo nela fala dos paradoxos emocionais de Mahler e da ...

Mahler e a explosão de uma alma de artista

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A quinta sinfonia de Gustav Mahler bem expressa a turbulenta alma de um artista. Tudo nela fala dos paradoxos emocionais de Mahler e da maioria de nós, os que fazemos da arte o nosso pão e o nosso refúgio.

Mahler escreveu sua quinta sinfonia durante os verões de 1901 e 1902. Em fevereiro de 1901, ele havia sofrido uma grande hemorragia que quase lhe custou a vida. O compositor passou um longo tempo se recuperando em sua vila à beira de um lago no sul da Áustria.

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Gustav Mahler ▪ 1860—1911
Apesar dos problemas, de um começo de vida difícil e da saúde abalada, ele paradoxalmente estava em seu melhor momento. O sucesso profissional havia chegado e ele conhecera a talentosa Alma Schindler. Quando voltou para sua vila no verão de 1902, estava casado com Alma e ela esperava seu primeiro filho.

A sinfonia inicia com um trompete e ribomba , enchendo ouvidos e corações com algo poderoso e desafiador. Há tempestades, som de passos marchando, desalento, ousadia, uma trilha acidentada, fogo sob a pele, entusiasmo, paixão, algo fúnebre e trágico, com gotas de sal e de fel. Mas há também melodias muito doces, harpas, violinos, a vida em comédia, valsa, redenção, bálsamo e cantiga. Nela, o adagietto, carrega um amor de encher os olhos. Põe açúcar sob a língua, a um passo do sublime, do mais alto encantamento.

Ao terminá-lo, resta um silêncio emocionado e se tem a sensação de ter testemunhado algo muito secreto, como uma olhada indiscreta na alma de alguém ou a intimidade de dois amantes. Não por acaso a música foi usada em vários filmes, o mais famoso deles Morte em Veneza, de Luchino Visconti.

No final, triunfo: um único tom de trompa logo ecoado pelas cordas, numa alegria ensolarada, selvagem e incontida. Ou, como definiu o próprio Mahler:

“É uma expressão de energia incrível. Um ser humano em plena luz do dia, no auge de sua vida”.
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Essa obra desafiadora e viril, que Mahler estreou em 18 de outubro de 1904, na cidade alemã de Colônia, foi revisada, emendada e modificada por ele diversas vezes. A última revisão foi em 1911, nos últimos meses de sua vida.

O artista é um inquieto, um inconformado, um perfeccionista que costura, descostura, recostura. Quase todos somos assim, escravos do inatingível fantasma da perfeição e das nossas agonias. Quase todos somos assim, exceto Mozart.

Pois Mozart é o sol.


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