— Dr. Germano está? — Não, não chegou ainda. Sente um pouco, ele não deve demorar. — Obrigado, para o que vim não há pressa. E me ...

Deu saudade

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— Dr. Germano está?

— Não, não chegou ainda. Sente um pouco, ele não deve demorar.

— Obrigado, para o que vim não há pressa.

E me veio a ideia de atravessar a rua, da porta do cartório de estilo sempre preservado até a calçada em frente, sem me ocorrer que o semáforo dá vermelho para a Cardoso Vieira e, simultâneo, libera para o acelero de quem vem pela Rua da Areia.
Os pneus cantaram, exalaram o queimor de sua borracha, e me vi salvo ainda que praguejado pela jovem condutora. Ia dizer “jovem e bela” só para arredondar a expressão, mas no sufoco não distingui coisa nenhuma.

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Soprei, recostei-me à parede donde mal se avista o painel de Flávio Tavares, e daquelas lojas de portas cerradas apareceu uma senhora a perguntar se eu estava bem e se não era bom um pouco d´água.

Agradeci, puxei o fôlego e saí descendo pela João Suassuna já refeito do susto, ocorrendo-me lembrar que no casario da esquerda por onde eu ia, quase todo de portas fechadas, funcionou, ou melhor, fez uma revolução na cidade de 1904, quando foi empastelado, o jornal de Artur Aquiles.

É incrível como por qualquer coisa esse nome não me saia da cabeça.
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Como, de leitura em leitura, ele se plantou na pobre sementeira dos meus heróis. Nem tanto pelo jornal que fez e onde se fizeram os nossos mais notáveis do jornalismo e das letras da primeira metade do século XX. Nem tanto por isso como pelos reflexos de sua personalidade moral, impondo-se acima de qualquer classe de poder, viesse de autoridades constituídas ou de coronéis. A gente mediana e o próprio povo o olhava acima de Epitácio Pessoa presidente ou chefe absoluto da política.

O jornal quebrou, fechou, deram a Arthur Aquiles um lugar no arquivo público, um miasma de infecções pulmonares, terminando os seus dias num hospital da Misericórdia do Recife. Em “Vultos da Paraíba” Oscar de Castro inclui em sua biografia a carta final dirigida aos amigos, fazendo o único pedido de toda a sua vida: amparo para uma filha menor.

A rua onde morou, que vem da 13 de Maio e desemboca rápido no Ponto de Cem Réis,
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mantém seu nome para mim sempre bem vivo, tal como o descrevem seus pupilos de prosa imortal a exemplo de Celso Mariz, Coriolano e Álvaro de Carvalho, que com ele se lançaram nas letras e no respeito público.

Vou me esgueirando pela calçada enladeirada, sempre pela calçada, quase ralando a parede, e me vejo numa praça enorme, nova ou restaurada e ampliada na gestão de Luciano Cartaxo, mas sem um pé de pessoa como a grande maioria das nossas praças. Como não tem árvores e o monumento existente quase não se nota (uma haste de ferro inclinada para o poente, forma encontrada num concurso entre artistas para homenagear os fundadores da Paraíba), pude avistar o reluzente teto boleado dos novos vagões correndo por cima do muro da estação. A resistência da CBTU terminou se rendendo aos apelos da Paraíba.

É programa, a Deus querer, para meu próximo passeio. E sozinho, à vontade com meus espíritos.

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  1. Essas recordações refluem para lembranças especiais que tenho de muitas dessas ruas e vielas, algumas delas mais significativas, como a Rua João Suassuna, onde no prédio (felizmente ainda bem conservado) nº 18, onde meu avô - Nicolau da Costa, instalou seu escritório.

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