Mário Quintana protagoniza um curioso paradoxo: o de ser lembrado por ter sido esquecido, em eleições para a Academia, e dar o lugar a candidatos de menos mérito do que ele. O fato sempre é citado quando alguém se torna alvo de injustiça semelhante. A rejeição ao grande poeta, que o Brasil reconhece e ama, terminou se constituindo num símbolo da iniquidade que por vezes permeia as escolhas nesse tipo de instituição.
Algumas pessoas têm a notável habilidade de se doar. Sentem, em sua condição profundamente humana, que há mais espaço para acolher os interesses do outro do que para cultivar suas próprias dores cotidianas. São indivíduos que comovem pela generosidade com que estabelecem vínculos, oferecendo presença, escuta e palavras — sem carregar pedras nos bolsos. Essa leveza no convívio, rara e preciosa, torna-os verdadeiros bálsamos num mundo cada vez mais árido de afeto.
A população sempre busca uma alternativa para escapar do transporte público, e não faltam razões: ônibus e metrôs lotados, trânsito caótico, e a eterna pressão de chegar no horário para não levar bronca. Recordo que, quando criança, já havia alternativas na minha cidade natal, que era rural. Primeiro surgiram os “alternativos” – aqueles Opalas, Monzas –, e a gente pagava uma quantia próxima à da passagem de ônibus e dividia a corrida com outros quatro passageiros. As crianças, claro, iam no colo. Depois vieram as vans, as kombis.
Creio que não exista entre nós, pelo menos como imagino. Pode haver um arremedo de arquivo como as universidades e algumas instituições culturais, mas não um órgão (ou uma entidade) criado com esse fim específico: o de guardar e preservar o acervo bibliográfico dos intelectuais paraibanos, escritores ou não. Ou seja, aqueles e aquelas que colecionaram livros ao longo da vida e terminaram por formar verdadeiras bibliotecas particulares, muitas das quais contendo preciosidades dignas de museu. Em outras unidades da federação brasileira existem instituições assim,
Um dia perguntaram a Rabi’a al-Adawiyya, uma das maiores místicas do sufismo no século VIII:
— Se você tivesse asas, voaria ao Paraíso?
E ela respondeu:
— Não. Eu iria além do Paraíso, até Deus. Porque não busco a recompensa, mas sim o Amado.
Esse tipo de amor é chamado em árabe de "ḥubb li-llāh", ou "amor pelo Próprio Deus", e é o centro da mística sufi, particularmente nas obras de Rabi’a.
Alessandro Cancian
Na vida, dependendo da época e do sentimento, desejamos voar para diferentes lugares.
Quando somos jovens, queremos conquistar o mundo, experimentar o novo, buscar aventuras. Mais tarde, porém, o coração deseja apenas se refugiar, descansar e se reconectar com a sua essência.
Como o vento muda de direção, assim também mudam os nossos impulsos de “voar”, de migrar internamente para outros estados de alma: mudar de profissão, de estilo de vida, de crenças, de afetos. Cada sentimento, seja saudade, inquietação ou dor, nos impulsiona a novos caminhos, reais ou imaginários.
Md Akbar Ali
Desejar “voar para diferentes lugares” é uma metáfora de nossa busca por plenitude, significado e pertencimento.
Os desejos humanos não são estáticos, sempre mudam. Contudo, qual o destino seguro? Afinal, mesmo com asas, podemos nos perder...
Intuitivamente, desejamos voar para onde há paz, silêncio e beleza, talvez para um campo florido ao amanhecer, para uma montanha envolta em neblina ou mesmo para o mar aberto sob o pôr do sol. Lugares onde a alma possa respirar fundo.
@prismatically
Cada ser humano é um eterno viajante em busca de sentido, de paz e de contentamento, que procura alçar voos através de sonhos, projetos, relacionamentos, conquistas. Mas quantas vezes, ao chegarmos nesses lugares da vida, ainda experimentamos um vazio interior?
Nenhum abrigo terreno é tão estável quanto o amparo divino. Nenhuma realização exterior substitui o acolhimento da Presença de Deus em nosso íntimo, pois a paz verdadeira não está fora, mas dentro de nós, quando descobrimos e cultivamos a nossa ligação com o Criador. Essa ligação é o voo mais sublime, é o voo da alma que confia em Deus, que o ama, que se entrega a Ele.
@SageSistas
Voar até Deus é buscá-Lo em oração, no serviço ao próximo, no perdão, na resignação, na esperança. É voltar à Fonte, procurando conscientemente esse retorno, mesmo em meio às duras provas do mundo.
Nos momentos de dor, de dúvida ou desespero, "voar até Deus", buscar a Sua Presença em oração, no serviço ao próximo e na prática do bem, é o melhor e mais seguro plano de voo.
Voltar para Deus não é uma fuga da vida, mas um impulso de fé que nos move a trabalhar, perdoar, recomeçar e amar. E o melhor disso é saber que, quando sentimos necessidade de Deus, é porque Ele já está conosco.
@mindveg
O voo até Deus acontece pelo silêncio interior, pela renovação de atitudes e pelo amor ao próximo. Voar em busca Dele, do “Amado”, no dizer de Rabi’a al-Adawiyya, é o movimento mais certo e necessário da alma humana; é o destino buscado por quem confia, mesmo sem ver, por quem ama, mesmo sem ser amado, e por quem serve, mesmo sem perspectiva de recompensa.
Foi a mesma poetisa e mística sufi que abriu esta crônica que também escreveu uma das mais belas orações já feitas pela mão humana:
"Ó meu Deus, se Te adoro por medo do Inferno, queima-me nele.
Se Te adoro pelo Paraíso, exclui-me dele.
Mas se Te adoro por Ti Mesmo, não me negues a Tua Beleza Eterna."
Fernando Vasconcelos obriga-me a acompanhar a escrita dos seus passos, de suas observações e, com a voracidade com que a globalização sucateou os meios e subverteu os usos da comunicação, mais me atenho às repercussões disso tudo em sua coluna semanal.
Clique nessa foto (abaixo) com “A Vista de Naarden” de Jacob van Ruisdael, pra ampliá-la. Eu a vi pela primeira vez quando, já bem perto do museu do Prado, Madri, 1994, atraiu-me, no Thyssen-Borniemisza, o título da mostra “El Siglo de Oro del Paisaje Holandés”. Rembrandt, Frans Hals e Vermeer viveram cercados de geniais criadores de naturezas-mortas, marinhas e paisagistas.
Quando assistíamos às conferências de Divaldo Franco (desde a primeira vez), ficávamos literalmente encantados. Então, perguntava à mudez de minhas incontidas emoções sobre como era possível alguém falar em público com tamanha clareza, eloquência e convicção para expor assuntos tão complexos? A profundidade e a maneira como ele discorria sobre temas com conhecimentos
O que me basta
Na dura história
De viver?
Se um Céu
De brigadeiro
Ou a tormenta das águas?
Os ocasos
E o Sol rompendo
O horizonte do Atlântico
Viver é belo
Um traço colorido
A cada instante mm
E a dormência
Das coisas na saudade
Nos diz da eternidade de nós
Existem memórias
Que não prescrevem
Como uma certa noite de luar
Um acorde único
Um beijo desejado
Existe somente
O que há
Como prova
Do povo que é
E ama
Das dores
Dos gozos
Das incongruências
Dos dorso nús
E das chicotadas
O vendaval
Arqueia o coqueiro
Na beira do mar
Ele, o vendaval é
A melodia de Yemanjá
Não me rouba a paz
A balbúrdia
Dos infantes
Não me tira o sono
O som estridente
Que vem das baladas noturnas
Não me aflige
O cantarolar dos galos
Na madorna das madrugadas
Mas me desgastam
Os nervos os estampidos
Das armas de fogo
Me aterrorizam
As imagens das guerras
E o genocídio
Me angustiam
As perguntas:
Humanos? Que humanos?...
Ao rés
Do chão
A taça caída
Trincada
Rastro vinho
De vidro
Moído e
Derramado
E no horizonte
O cristal
Das estrelas
Tem a lua prata luz
Já no mar
Estradas de ouro
Nascer de sol ou da lua
Luz em espectro
Ao rés Do chão
O cristal partido
Reflete as cores
Do que dói em quebrar-se
Espectro
Chegou a velhice
E me sinto
Alquebrado
Minhas ideologias
Destruídas
Meu sonho de mundo apagado
Não amealhei
Depois de tanta luta
Nem o necessário...
Armazenei
Bibliotecas na mente
Todas inúteis
Mas se Hércules
Venceu seus 12 trabalhos
Eu também posso
Que a cada pulso
Segundo contado a menos
Se me revele muitos universos
Afinal doer não é privilégio
De uns
É direito de todos
A música do Hino espírito-santense, de autoria de Arthur Napoleão, é maravilhosa, mas, infelizmente, a letra de Peçanha Povoa é um amontoado de equívocos e bobagens linguísticas. Recordemo-la:
Um dos maiores escritores portugueses – Fernando Pessoa – disse que o tempo é um instrumento que Deus usou para nos ensinar a conviver. Sábias palavras, talvez para o tempo em que viveu esse nome atemporal. Em pleno século XXI – peço licença a esse Poeta-Maior – e afirmo que conviver necessita de novos contornos semânticos.
Poetas, candidatos a poeta, amantes da poesia – leiam Gonçalves Dias e Manuel Bandeira! Sim, deixem de lado os poetas atuais, deixem seus coevos repousar! Deixe-os, por um bom tempo, em banho-maria ou em estado de suspensão! Larguem tudo, vão ao poeta de “Ainda uma vez – Adeus!”! Deliciem-se com o poeta de “Sonho de uma terça-feira gorda”!
O capitalismo é reconhecido por sua capacidade de fomentar o crescimento econômico e a inovação tecnológica, enquanto sistema econômico hegemônico no mundo contemporâneo. Contudo, é imperativo reconhecer que sua configuração atual, caracterizada por dinâmicas desumanizantes, tem contribuído significativamente para o aumento dos índices de transtornos mentais, em especial a depressão. Tal enfermidade, cuja prevalência tem crescido globalmente, deve ser compreendida como um sintoma das contradições inerentes a um modelo que privilegia a maximização do lucro em detrimento do bem-estar social e da qualidade de vida.
Caço odores permanentemente e percebi que os melhores cheiros vão tornando-se mais difíceis de reencontrar. O cheiro do piso dos tacos de madeira da minha casa quando era encerado com cera Parquetina é um deles. Lembro de uma enceradeira muito antiga cujo fio permitia que ela passeasse (quase requebrando) barulhenta entre as salas, dançando nas mãos firmes da empregada. Sinal seguro que haveria visita importante ou uma festa.
O recente transcurso do 160º ano do nascimento de Epitácio Pessoa, ocorrido em 23 de maio, é o que me traz essa história. Pois bem, dez anos atrás, quando do sesquicentenário do homem, uma mensagem caía no meu celular. Nela, o procurador geral do Ministério Público de Contas da Paraíba Marcílio Franca (em viagem, então, à Europa) pedia-me para reservar um exemplar do Jornal da Paraíba contendo entrevista na qual eu tratava de uma pesquisa sua e do artigo que ele havia produzido, ainda em 2007,
Clementine apareceu há um mês aqui em casa. Instalou-se sem pedir licença. Teceu uma teia comprida e agora fica pendurada, de cabeça pra baixo, entre a mesa de café da manhã e o pé de jasmim. É do tamanho da minha unha (do polegar da mão), incluindo as patas esticadas. A minúscula aranha canadense me ensina a arte de bem viver.