ECOS Há sons que nos acompanham, indefinidamente, mensagens subliminares, para sempre em nossa mente. Não me esqueço da t...

Memória

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ECOS
Há sons que nos acompanham, indefinidamente, mensagens subliminares, para sempre em nossa mente. Não me esqueço da toada da chuva grossa no telhado da velha casa onde por muitos anos morei. Como não lembrar da melodia dos dobrados executados pela Filarmônica nas alvoradas inesquecíveis pelas ruas da cidade? Ficou também o repique do sino da igreja avisando que uma criança estava sendo sepultada ou que a missa iria começar. Sempre me recordo do barulho irritante feito pelas carroças que passavam para a feira, bem cedinho! E a Ave Maria tocada às 18h, no sistema de som, rouco e singular, da matriz? E o prefixo musical da programação da difusora de D. Neves, assim como a cadência da marcha fúnebre que acompanhava os enterros? Não há como esquecer as longas serenatas, ora ouvidas, ora entoadas, madrugada adentro, nos bancos da praça, em dias frios de lua ou de noites estreladas. São tantas vozes em uníssono que inundavam os recreios do Colégio Padre Galvão, as matinês do Cine São José e os assustados do Pocinhos Clube! E as conversas familiares, intermináveis, na mesa da cozinha, herança do meu avô a meu pai? São ecos do passado que vêm e vão, e vêm de novo à minha memória, deixando marcas indeléveis de um tempo que passou.
HERANÇA
Meu pai cuidava do cinema da cidade, que era da paróquia, e minha mãe vendia os ingressos, para ajudá-lo na lida. Por não ter com quem ficar, eu ia com eles e assistia a todos os filmes. Minha mãe lia em voz alta as legendas dos diálogos, porque ele não via a tela direito. Essa foi minha primeira experiência com leitura formal, o que me encantou e me conduziu ao amor pelas letras.
FOGUEIRA
Acendo hoje uma fogueira de São João imaginária. Em volta dela, as brincadeiras da infância, os sonhos da juventude e os medos da iminente velhice. Nela não faltam os fogos de artifício nem os balões multicoloridos, no céu do meu lugar. Também estão nessa lembrança as rezas da minha avó, as crendices do povo simples e uma fé dissimulada nos poderes de Santo Antônio. Daqui a pouco, ela vai se apagar, deixando as cinzas de um tempo bom e diferente que traz uma saudade quase física do que já não é mais.
ACENO
No final da festa de São João, as bandeiras coloridas eram pedaços de sonhos desfeitos, aquecidos no que restou da fogueira que, aos poucos, transformava-se em cinzas.
DAS CORES
Do que vi, por onde passei, ficaram o azul do mar caribenho, o branco dos chapéus do Panamá, o cinza das muralhas de Cartagena, o colorido dos grafites de Bogotá, a negra pele jamaicana e uma saudade quase roxa do meu lugar.
LABIRINTO
Traço um mapa com o que fui para me guiar. E vou deixando pelos caminhos pedras-marca, a fim de saber como voltar. Andando em círculos, certamente, um dia, irei me reencontrar.

NOTA
Poemas incluídos no capítulo MEMÓRIA, do livro "Entre Parênteses - Poemas" (Ed. Da Autora), de Marineuma de Oliveira, com participação, em áudio, do grupo Poética Evocare.
Clique na imagem ao lado para acessar episódios completos do podcast homônimo, já publicados em plataformas de streaming (Link)

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  1. Que nemórias lindas das viagens feitas, através das cores. Amei

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  2. Parabéns por valorizar momentos tão simples,que marcaram sua vida no interior,num ambiente familiar!!

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  3. Como é gostoso ouvir esses poemas.. Parabéns e obrigada por partilhar em poemas, sua infância, que me fez lembrar da minha.

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  4. Maravilhosa poética, fala de um tempo mágico da infância e de um amor inconteste as suas raízes! Prazerosa leitura! Parabéns!❤

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  5. Lindas memórias em verso e em cores,. Obrigada pela partilha!

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