O rapaz se chamava Josué e tinha cavalgado quatro léguas para assistir a primeira missa do domingo na Matriz de Nossa Senhora das Mercês. Era uma manhã deserta e silenciosa porque não havia ninguém pelo caminho e também porque nada parecia importar, a não ser os pensamentos que lhe martelavam o coração, assim como os cascos do cavalo nas folhas secas do terreno arenoso. Nem a beleza da névoa azulada que pouco a pouco se dissipava através dos galhos e folhagens das árvores que margeavam a estrada parecia importar. E nem mesmo o último mata-burros sombreado por frondosas algarobas e touceiras de aveloses que chamavam a atenção pela exuberância e onde havia uma casa secular com janelinha perto da cumeeira e telhado com chaminé, parecia importar.
Quando penso ter esgotado todo o acervo de orações, vejo que a sintonia com o Alto é infinta como a Inteligência Suprema. Mesmo respeitando preces historicamente tradicionais, como a de Cáritas, São Francisco, Pai Nosso, Credo, Ave-Maria e outras, o conceito de oração não se reflete exatamente em repeti-las. Ainda que, como atestam estudiosos do magnetismo e das energias vitais, o “Pai Nosso” tenha o poder de um mantra.
O nome da teoria não deixa de ser estranho: de tudo. Mas é o apelido que renomados cientistas, no campo da Física, denominam a teoria “que visa resumir em um único conjunto de equações a origem e a natureza do cosmo, assim como as forças contidas nele” - esclarece o inglês Robert Mattheus, físico-matemático, pesquisador e repórter científico. A teoria propõe unir o micro e o macrocosmo, sendo também denominada Teoria da Grande Unificação (TGU). Essa união consiste em provar, na prática, o que os cálculos já revelam: a existência de uma matéria primordial, encontrada tanto no Universo quanto no átomo. Para demonstrá-la é preciso unir os métodos de estudo do Universo com os das partículas atômicas.
Natacha Rostóva, na sua ingenuidade de criança, aliada a uma vida fátua de aristocrata, embora em franca decadência, apaixonava-se com facilidade. Uma de suas paixões foi pelo príncipe Andrei Bolkónski, com quem chega a ter um compromisso de noivado. Instado pelo pai, Andrei propõe que eles esperem um ano, dando total liberdade a Natacha, durante esse período, até de ela se apaixonar por outro. Se, passado um ano, Natacha mantiver firme a sua decisão, eles se casarão. Por mais que seja duro para ela, Natacha aceita a situação, não sem lamentos.
Flávio Tavares, aos 70, se reinventa. E inventa de alcançar os limites do seu próprio tempo. Elege esses dias de pandemia para sugerir exultante grafia em forma de poesia. E colhe luz de outros escolhidos e merecidos espelhos seus.
Algumas vezes a revisão do jornal se arrastava até a madrugada. Fosse por algum ato de última hora ou pela onda de oposição que começava a abalar a cabeça e os porões do Catete. “Mar de lama”, no discurso de Afonso Arinos, com maremoto no atentado a Lacerda. Na Paraíba mesmo ecoou forte o anátema saído do discurso de um dos nossos senadores, Argemiro de Figueiredo: “É preciso matar este governo para que sobreviva a nação”. O imã dos acontecimentos neutralizava a cantilena dos revisores em cima da prova tipográfica. Dois revisores para cada texto, um escandindo a leitura e o outro correndo os olhos no texto.
Na proximidade do crepúsculo é normal o trabalhador retornar a casa, esperançoso ou ansioso, aguardando o descanso noturno, seja ele residente na cidade ou na roça.
Voltar para casa é o desejo de todos, mesmo que a sua residência seja uma choupana de taipa ou papelão, mas é um cantinho ao qual chamamos de “minha casa”.
Os sebos e suas revelações. Não apenas as raridades bibliográficas que às vezes encontramos surpresos e recompensados. Também certos achados menos nobres mas não menos pitorescos, com dedicatórias ou autógrafos revelando histórias nem sempre edificantes, histórias de descaso, de desconsideração ou simplesmente de avara ignorância. São muitas as histórias dos sebos.
Os que acreditam na influência dos astros em suas vidas devem ter ficado chateados com Parke Kunkle, professor de uma instituição americana. Segundo ele, “está errada a interpretação dos movimentos celestes usada pela astrologia para determinar os signos de acordo com a data do nascimento das pessoas”. Isso porque os mapas astrológicos, produzidos 3.000 anos atrás, estariam há muito defasados. Com a mudança no posicionamento do eixo da Terra, uma pessoa que se imaginava capricorniana, por exemplo, é na verdade de Sagitário. Um suposto taurino, como eu, pertence ao signo de Áries.
Uma das angústias da mente curiosa adolescente é saber se um quilo de pedra pesa mais do que um de pena. Tal dúvida angustiante é esclarecida a partir do estudo dos rudimentos da Cinemática, parte da Física que estuda o movimento dos corpos.
Todo preconceituoso é falso moralista e tem uma mentalidade promíscua. O pior é que muita gente exerce o preconceito com certo orgulho. Mas não deixa de ser uma manifestação de ignorância. Racismo, sexismo, discriminação étnica ou religiosa, são as formas mais conhecidas de preconceito nocivo. E assistimos essa prática encarada com naturalidade por muitos, mas que merece forte reação de quem não compactua com esse tipo de comportamento. Ainda mais quando se observa que o preconceituoso é alguém que deveria dar o exemplo de civilidade e de respeito às diferenças.
Anicius Manlius Torquatus Severinus Boethius – os registros históricos são imprecisos sobre seu nascimento; provavelmente entre 470 e 480, possivelmente em Roma, como a maioria defende. Morreu em 524, ao que se acredita, em Pavia, lugar onde repousa seus restos mortais, na basílica de San Pietro in Ciel d'Oro – em seu tratado De Institutione Musica, escrito entre os anos 515 e 520, obra, portanto, de sua maturidade, relaciona a música à conduta ética assim como ao raciocínio puro.
Dizem que na prisão vê-se o Sol nascer quadrado… Decerto porque nas atuais cadeias as janelas têm tal forma. Nas de antigamente, talvez houvesse algumas redondas, como as náuticas, amoldadas ao Sol, ou sequer existissem. Mas a uma janela não importa geometria de contornos. Elas bastam por si só.
Dos grãos da Rua da Areia, solidificada na Praça da Pedra, a cidade repousa suas histórias. De onde já existiu a Rua Direita, segue suas lutas para a Trincheiras, é também nação Tabajara. Em João Pessoa, a velha Parahyba, temos sim história, natureza e cultura marcadas em seus logradouros.
É bonito encontrar ruas que se chamam Adriático, Bering, Mar Vermelho e Oceano Pacífico
E não é só do núcleo histórico central que as ruas seguem trajetos com nomes sem nomes e homenageiam cores, formas, conceitos e flores, viajam por cidades, estados e países. Assim surge um bairro inteiro, com Maranhão, Acre, Rio de Janeiro, Bahia, Amazonas e demais unidades da federação. E tem Avenida Guarabira, que também não é no Brejo.
A Capital tem ainda uma reserva florestal batizando avenidas e ruas. De onde primeiro desapareceram as árvores, o tempo vai destruindo as casas e erguendo prédios. O Anatólia, não da Ásia Menor, da República da Turquia, mas o encravado nos Bancários, tem Baraúnas, Imburanas, Eucaliptos, Ipês, Flamboyants, Castanholas e até Pinheiros. No caso, foram-se as árvores, ficaram os nomes. Melhor que de homens, restou a poesia a batizar o concreto.
Na zona Oeste da cidade também brotam ruas de flores e frutos. Lírios, Pau D´Arco, Jambeiros, Buritis e Algarobas ajudam a transformar a cidade num jardim. Na mesma região do Bairro das Indústrias, o Distrito Industrial, nada mais coerente que a busca pelo desenvolvimento fizesse surgir ruas ligadas ao local. Sim, mesmo com a economia sofrida é possível percorrer Progresso, Importação, Exportação e Criatividade. E encontrar Trabalho. Eu vivi por muitos anos na Prosperidade. Sou testemunha que elas existem já há bastante tempo.
E que tal mergulhar em diversos mares? Ok, é Cabedelo, Intermares, mas vale a referência. É bonito encontrar ruas que se chamam Adriático, Bering, Mar Vermelho e Oceano Pacífico. Em tempos próximos, no inverno, ali as chuvas e a falta de infraestrutura faziam com que os nomes ficassem bem próximos da realidade. Quanta ironia dos gestores cabedelenses.
Bonito mesmo é encontrar em Gramame convivendo próximas as ruas do Coração, História de Amor e Lei. Que, então, de fato, reine a paz.
E dou o devido crédito. O texto surgiu ao ouvir o genial percurso musical de Alceu Valença. Eis que a fonte de inspiração/transpiração/respiração sobre os nomes de ruas. Em "Pelas ruas que andei" o cantor e compositor pernambucano percorre logradouros históricos e de nomes poéticos existentes na velha Recife. E lá vai Alceu cantando: "Na Madalena revi teu nome/ Na Boa Vista quis te encontrar/ Rua do Sol, da Boa Hora/ Rua da Aurora, vou caminhar/ Rua das Ninfas, Matriz, Saudade/ Da Soledade de quem passou/Rua Benfica, Boa Viagem/ Na Piedade tanta dor/ Pelas ruas que andei, procurei/ Procurei, procurei te encontrar..."
As avenidas, ruas e praças precisam ter alma, poética de preferência. Pena não achar no mapa de João Pessoa uma rua dos Sonhos ou da Poesia. Quem sabe um dia...
P.S. Se pensarem em colocar um dia meu nome numa rua, por favor, repensem e a batizem de algo mais natural, que soe melhor, tipo uma árvore, uma flor ou um amor.