Ela se chamava Isadora, mas poderia se chamar Flora, Ana ou mesmo Sossego e tinha o hábito de, estranhamente, colecionar domingos. Não...

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Ela se chamava Isadora, mas poderia se chamar Flora, Ana ou mesmo Sossego e tinha o hábito de, estranhamente, colecionar domingos. Não em vídeos ou fotos. Ela os guardava inteiros em potes de vidro, desses que vêm com azeitona ou doce em conserva. Imagine os vidros de domingos arrumadinhos no armário da sala, impecáveis. Não colocava data de validade, colocava rótulos e eram assim, soltos para serem degustados a qualquer tempo.

Vasos de cristal são belos e frágeis. tão belos e frágeis como o tempo e a felicidade em nossas vidas. Não há necessidade que tenha...

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Vasos de cristal são belos e frágeis. tão belos e frágeis como o tempo e a felicidade em nossas vidas. Não há necessidade que tenham formato de recipiente para colocar flores. Não, as flores mais belas nascem entre as pedras da rua. Por extensão, ali está o cristal eterno da beleza divina.

A relação entre verdade e realidade no contexto da existência humana é uma questão profundamente filosófica que provoca reflexão sobre ...

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A relação entre verdade e realidade no contexto da existência humana é uma questão profundamente filosófica que provoca reflexão sobre a autenticidade e a aparência. Ao longo da história, pensadores como Sócrates, Nietzsche e Sartre exploraram a tensão entre ser e parecer, levando-nos a questionar:

Todo ser humano possui lembranças que compartilha apenas com alguns amigos. Existem outras que ele não revelaria nem mesmo a esses con...

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Todo ser humano possui lembranças que compartilha apenas com alguns amigos. Existem outras que ele não revelaria nem mesmo a esses confidentes, guardando-as apenas para si, em segredo. Mas há também aquelas memórias que ele teme até mesmo admitir a si próprio — esse é o inconfessável, que gera sofrimento. São sentimentos como o apequenamento, o escapismo, a ingratidão, e uma consciência fragmentada, com dificuldade de se reconciliar com os outros e consigo mesma. Essa forma de viver constitui um constante conflito entre razão e emoção; desejo e frustração; recusa e aceitação — e revela a falta de um existir com dignidade, fundada na carência emocional, nas falhas existenciais e psíquicas, nas incertezas pessoais e no sentimento de vazio existencial.

Tudo começou numa manhã azul de domingo, primavera de 2009. Eu e um parceiro muito chegado, o Edu, tínhamos que dar cabo à missão de...

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Tudo começou numa manhã azul de domingo, primavera de 2009. Eu e um parceiro muito chegado, o Edu, tínhamos que dar cabo à missão de levar nossa prole a uma exposição que ocorria sob aquele teto cheio de composições geométricas, o Espaço Cultural. Para a dita prole, uma tropinha de três serelepes criaturas, eu contribuí com uma das componentes, uma garotinha que ainda atende pelo codinome familiar de Gabi. Já Edu, levou o Sussinho e a Repolhinho.

O ofício do escritor é geralmente vinculado a uma atividade de extremo esforço e/ou de recursos mágicos para a produção do texto. Embor...

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O ofício do escritor é geralmente vinculado a uma atividade de extremo esforço e/ou de recursos mágicos para a produção do texto. Embora para escrever não existam fórmulas infalíveis, dado que é necessário que o redator esteja ao menos dotado de proficiência em sua língua, é relevante a existência de manuais que o auxiliem. Isso porque o que diferencia um usuário comum da língua de um mais competente é a consciência dos recursos

A festa literária e de homenagens no Sol das Letras do mês passado foi para o professor Chico Viana , mas saímos ganhando...

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A festa literária e de homenagens no Sol das Letras do mês passado foi para o professor Chico Viana, mas saímos ganhando todos seus leitores e admiradores, presentes ao evento que aconteceu na Academia Paraibana de Letras.

É comum se aproximar a poesia de Augusto dos Anjos da filosofia de Friedrich Nietzsche, certamente em fun...

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É comum se aproximar a poesia de Augusto dos Anjos da filosofia de Friedrich Nietzsche, certamente em função da influência que há nos dois de Arthur Schopenhauer. A ideia do mundo como “vontade e representação” e a consciência da inevitabilidade do sofrimento marcam a produção dos dois e determinam as suas visões de mundo. Algo, no entanto, afasta fundamentalmente o paraibano do autor de “Para além do Bem e do Mal” – a forma como veem o destino.

Há um café na esquina onde costumo parar não pelos croissants, porque são apenas razoáveis, nem pelo café que é muito forte. Vou para...

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Há um café na esquina onde costumo parar não pelos croissants, porque são apenas razoáveis, nem pelo café que é muito forte. Vou para observar as pessoas. Sim, aquelas que se sentam sozinhas com olhos vidrados no celular, as que riem alto com seus grupos digitais atraentes e desordenados, as que trocam palavras breves com o garçom de crachá manchado, afável, de barba branca, avental no braço e olhos servís.

Continuam cada vez mais crescentes as indagações dos pacientes em nosso consultório sobre essa temática, que ainda consideramos um...

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Continuam cada vez mais crescentes as indagações dos pacientes em nosso consultório sobre essa temática, que ainda consideramos um problema mal resolvido. Respaldado nesse importante aspecto, resolvemos escrever as linhas que se seguem abaixo mostrando nossa posição atual a respeito desse assunto que tão fortemente preocupa a população em geral.

No próximo dia 1º de agosto deste 2025 fará cinquenta anos da morte de Virgínius da Gama e Melo. É uma data a ser lembrada pela Para...

virginius gama melo
No próximo dia 1º de agosto deste 2025 fará cinquenta anos da morte de Virgínius da Gama e Melo. É uma data a ser lembrada pela Paraíba, onde ele viveu, morreu e, com primazia, espalhou o brilho de sua inteligência. Uma inteligência e um talento, como crítico e romancista, reconhecidos aqui e no Brasil. Sua obra e seus prêmios atestam isso.

“Miranda July escreve com honestidade brutal e faro para o insólito. Isso torna este romance uma narrativa selvática e tragicômica so...

“Miranda July escreve com honestidade brutal e faro para o insólito. Isso torna este romance uma narrativa selvática e tragicômica sobre crescer depois dos quarenta anos. Com ecos de autoficção e expondo uma vulnerabilidade sedutora. De quatro faz com que nos apaixonemos diante da possibilidade de novos e belos destinos”
(da orelha do livro)


Assim se chama o segundo romance da escritora, roteirista, cineasta e performer americana Miranda July. Livro que causou rebuliço nos meios literários e feministas. E o porquê desse reboliço? tentamos falar disso no nosso Clube de Leitura – Frederica, neste mês de julho.

Li um Poema, acabo de ler um Poema. Quantos poemas já li desde o longínquo: “Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida...

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Li um Poema, acabo de ler um Poema.

Quantos poemas já li desde o longínquo:

“Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!“

Só que os anos e séculos sempre os trazem de volta. E tornarão a voltar, seja no poeta menino que trina pelas cordas do sabiá no exílio além-mar ou do homem fiel ao menino e ao trinado agudo a ressoar do gume e penhascos da sua Aroeiras.

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Casimiro de Abreu CC0 (adap)
Quantas vezes alcei voo de pássaro de quem sai de si, desta prisão que as duras leis da vida impõem, nas asas do único voo feliz que não consegue terminar.

Criança interna, todas as manhãs eu acordava e levantava às seis, saía tangido em fila para o banheiro coletivo, o frio serrano juntando-se ao gelo da água. Tudo por severa obrigação. Obrigado à missa em jejum, a só falar no refeitório após o deo gratias, a quatro horas de leitura e do dever de casa - oito tantos de disciplina para quatro de recreio – de repente só um sabiá de livro me salvava.

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GD'Art
Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá. Sempre o sabiá de livro a nos dar asas e poderes sobre as nuvens do céu e os limites da terra e do tempo.

Quantas vezes senti dúvida se não existia uma vida além da que me obrigava a ficar entre paredes, sem estrada à vista, o olhar pregado na sisudez do inspetor ou limitado aos muros do internato.

No salão de estudos, minha carteira ficava colada a um janelão aberto para o nascente, o sol benzendo-me com seu clarão e seu calor, sem que eu desse por ele. Sol é o que mais tínhamos e temos, crestando a roça e faiscando no seixo dos caminhos. Mas aquele sopro raiado de luz forte e carregado pela apanha dos ventos e dos cheiros para as páginas da antologia aberta nos versos de Casimiro e Álvares de Azevedo levaram-me com eles. E vim esbarrar aqui, muito pouco para os que sonham alto, mas nas nuvens para o menino matuto dos meus grotões.

Não senti surpresa diferente, agora aos noventa anos, ao dar com Serafim, reino encantado, que o janelão do Gmail veio deixar no quarto três por quatro que é meu universo de hoje.

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GD'Art
Trata-se de um poema de dez estrofes, de onze a quinze versos cada, cuja leitura vai sumindo como tal à medida que a poesia feliz por ser a vida mesma vai imergindo em você. Por mais que o autor tenha levado a vida a exaltar a palavra, a consagrá-la em todas as situações e diferentes circunstâncias, mais a palavra ingressa no abstrato ou atinge a transcendência que se realiza, como esperava Augusto. E com as palavras mais simples como as que Rubem Braga apontou em Camões.

E parecendo tão vulgar: “Nasci numa tarde de chuva/ o Cariri era uma escuridão só.” Mas vá dentro, leitor e leitora amigos, e veja como sai!

Não sei se estou maltratando um autor da mais fecunda vocação poética e apurada consciência crítica como o mestre Hildeberto Barbosa Filho. Mas não tenho dúvida que Manuel Bandeira, sob os signos de hoje, não me faria sentir maior e mais pura emoção.

Às vezes para sobreviver se faz necessário costurar as emoções, porém, silenciar não é sinônimo de aceitação, de paz. A criança é en...

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Às vezes para sobreviver se faz necessário costurar as emoções, porém, silenciar não é sinônimo de aceitação, de paz.

A criança é ensinada a não retrucar, não chorar, não ter medo, para se tornar um adulto forte.

Em junho de 1585, fracassava mais uma tentativa de ocupação pelos portugueses e espanhóis das terras do litoral da Paraíba. Acossado pe...

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Em junho de 1585, fracassava mais uma tentativa de ocupação pelos portugueses e espanhóis das terras do litoral da Paraíba. Acossado pelos ataques dos Potiguara e premido pela fome, o capitão castelhano Francisco de Castrejón destruiu o Forte de São Filipe e São Tiago que ele comandava e que fora construído, um ano antes, pelo general Diego Flores de Valdés na margem esquerda do rio Paraíba próximo a sua foz. A fortificação fora erguida com a finalidade de proteger a barra do rio contra

  Tarde sem fim Ainda sinto o seu perfume no ar de sol, E você já não está mais aqui. Mas, é como se você estivesse, Suas esca...

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Tarde sem fim
Ainda sinto o seu perfume no ar de sol, E você já não está mais aqui. Mas, é como se você estivesse, Suas escamas estão em toda a parte, Sob minha pele, meus olhos, meus lençois. Suas palavras sussurradas continuam dançando Na sombra da tarde sem fim. Seu hálito está no crepúsculo E se perde no mar que vai.