Desde pequeno eu monto uma espécie de um álbum de figurinhas da cidade. Um catálogo individual, de valor único para o ser eu. É uma coleçã...
Pedaços da cidade
Em seus componentes físicos a noite é a mesma. Solitária e imensa se vivida numa antiga aldeia rural e quase despercebida no ruge-ruge da ...
A árvore que se larga
Vivi as duas situações. E vi a noite encurtar à medida que a opção de vida e de trabalho foi me atraindo para outras compulsões. A quantas madrugadas cheguei, o sol se anunciando pelos vitrais da redação, sem perceber que a noite sumira quase inteira no fechamento das últimas páginas. Os jornais, nesse tempo, não encerravam antes da meia-noite. Fechávamos cedo o noticiário local, as resenhas da assembleia, do governo, da polícia, mas ficávamos na dependência das agências de notícias, que se comunicavam pela radiotelegrafia. E os conspiradores daquele tempo, os malfeitores da vida social sempre escolhiam a noite para agir.
Morei em Recife durante algum tempo e o que mais ouvi foi a frase: não pode... é perigoso. Chegou o carnaval, que eu adoro, e tudo não po...
Bacurau
O carnaval acontecendo e eu cercada de “não podia”. Lembrei que eu fora, durante anos, rodeada de nãos e minha alma rebelde falou baixinho em meu ouvido – o que você pode perder? Eu que vivi chorando perdas, perder o que mais?
Os causos que vez ou outra publico nesta coluna não são invencionices ou frutos de minhas maldades. Chegam-me por “ouvi dizer” e nem posso...
Coronel Belarmino e o Jeep 51
Dizem que perdoar é ato dos fortes. Não duvido, eis que guardar ressentimentos é bem mais comum em nosso comportamento. Ressentimento sig...
Sem mágoas nem ressentimentos
Talvez por estarmos mais habituados a nos comprazer com a dor, decepção e mágoa, por algum atavismo cujos meandros não serão objeto desta reflexão, (por se tratar de assunto complexo e controverso), ou pelo simples fato de não cultivarmos com a mesma disposição a gratidão.
Não nos referimos tão somente aos êxitos materiais, mas também as vitórias sobre nossos vícios, falhas e defecções.
Não temos a pretensão de analisar com profundidade e/ou abordar a necessidade do perdão, como proposta religiosa, ou de evolução espiritual, na busca da passagem para um céu, nirvana ou paraíso, a depender da cultura. Mas tão somente pelo prisma da saúde mental, física e emocional.
Na prática do ressentimento, cultivamos invariavelmente a mágoa, que etimologicamente quer dizer má água. Se observamos o percurso de um córrego ou fonte cristalina, os movimentos do mar ou dos rios, percebemos que os mesmos, além da beleza e fonte de nutrição e hidratação, carrega em suas entranhas uma variedade de seres vivos, quer sejam vegetais, minerais ou animais, e pela força do movimento arrastam, para suas profundezas, ou para superfície, os corpos mortos, carregados de vibriões, larvas, fungos e bactérias.
A mágoa, pode ser associada a um pântano ou lago, com suas águas, pestilentas e insalubres, e em alguns casos, periculosas, como as que estão carregadas de lixos tóxicos ou resíduos indústrias, causando enfermidades, deformações fetais e morte. E estas condições são agravadas pela ausência de movimento, ou seja, por estarem paradas. O ressentimento, que vem posteriormente à mágoa, apresenta uma estrutura funcional semelhante. De tanto trazermos à nossa mente imagens de eventos dolorosos, traumáticos e frustrantes, bem como a raiva das pessoas eventualmente partícipes ou causadoras desses eventos, essas imagens se sedimentam dando lugar à mágoa que, à semelhança de ferrugem, ou qualquer elemento cáustico, vai, aos poucos, corroendo nossas resistências físicas, mentais e emocionais.
Quando nos dispomos a perdoar, ou seja, desculpar ou compreender os limites do outro, tentando resignificar a dor que causou o trauma, fazemos um movimento análogo ao dos rios e mares, jogando para a supercie de nossa consciência, iniciando um processo de recolhimento daquele lixo mental que hora nos intoxica. Ou jogamos para as profundezas de nossa memória, de forma a não permitir que a dor seja experienciada cada vez que à lembrança visite nossos painéis mentais.
É um processo que exige, vontade, perseverança e calma, eis que na natureza nada acontece de assalto.
Se o outro não aceitar o nosso perdão, não nos diz respeito, posto que perdoar nos tirará dos grilhões do ódio ou da mágoa, e essa alforria é pessoal, não dependendo da aprovação ou aceitação do outro.
Caso seja necessário, procuremos ajuda profissional ou mesmo religiosa, isso claro, sem fanatismo ou candidatura à santificação, para não adentrarmos num processo também grave, que é o da negação ou hipocrisia, pois esse tipo de ferrugem corrói nossa estrutura psíquica de dentro para fora, e não o contrário.
Viver é preciso, e viver de forma leve, sem mágoa ou ressentimentos desnecessários.
É atribuído a Beethoven o seguinte diálogo. Já idoso, surdo e misantropo, numa das múltiplas trocas de domicílio em Viena, o compositor e...
A lição de Beethoven
- O senhor tem árvores em seu quintal?
Pertinho do carnaval, eles saíam às ruas em comissão pedindo dinheiro aos moradores. Eram pessoas conhecidas, pobres, honestas e muito que...
Nosso carnaval de rua
Não basta só uma vida, para ser mãe. Às vezes, sinto que a mãe (“órfã de filho”), fica sem jeito em responder quanticamente sobre os fi...
Mãe para a eternidade
Às vezes, sinto que a mãe (“órfã de filho”), fica sem jeito em responder quanticamente sobre os filhos... como se incluir quem já não está fisicamente, fosse errado.
Não se deixa de ser mãe, quando um filho vai para outro plano, apenas, nos tornamos mãe em dois mundos, eternizamos nossa maternidade.
Há 110 anos, vinha a público um dos livros mais estranhos da literatura brasileira. Seu título? “Eu”. Seu autor? Um paraibano magro, nasci...
110 anos do ''Eu''
Neste mês de fevereiro está sendo comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna, evento que se deu no Teatro Municipal de São Paulo,...
Mário de Andrade na Paraíba
Quantas vezes ouvi, pelo rádio, a propaganda do Phymatosan – com a mesma... canção “Daisy Bell” que vi, em 1968, o computador HAL 9000 não...
Como era longa a propaganda do Phymatosan!
Há momentos em que podemos nos dar ao luxo de pensar sobre o porquê de determinados acontecimentos ocorrerem em uma época, ano, ou em um ...
Caminhos da arte
É comum pensar que a manifestação artística, tomando como exemplos a música e a literatura, vivem um declínio relativo com o que já foi produzido em determinado tempo, usualmente vinculados aos nossos tempos de juventude e estabelecendo esta fase como um marco imbatível de criatividade.
Em janeiro de 1937, há 85 anos, dentro das comemorações do segundo aniversário da administração do governador Argemiro de Figueiredo, era ...
Tabajara: a Orquestra da Paraíba para o Brasil
Até aos que não ouvem é possível o mar cantar. Com o céu faz um dueto, em busca um do outro. No desenho ondulado infinita é a arte. Quebra...
Há sempre razão maior de viver
Aos que o ouvem, um deleite sinfônico em todos os timbres. Do grave robusto ao mais fino agudo, nuances sonoras, nunca iguais, formam seu canto, ainda que a rotina lhe escreva a pauta, ano após ano, era após era…
Foi justo, mais que merecido, o comportamento dos que fazem a TV Cabo Branco ao trazer de volta, bem vivo e em grande estilo, o velho Chic...